quinta-feira, 4 de maio de 2017

Semáforos de SP penalizam população idosa

Tempo de travessia não é suficiente para idosos atravessarem com calma e segurança Conexão Planeta

Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP mostra que a velocidade de travessia de pedestres utilizada para definir tempo semafórico na capital é rápida demais para idosos, maiores vítimas do trânsito
ALEXANDRE PELEGI
Diário do Transporte
Noticiamos aqui (https://diariodotransporte.com.br/2017/05/03/prefeitura-promete-aumentar-tempo-semaforico-para-travessia/) que diante do aumento das mortes de pedestres em SP, a prefeitura prometeu ontem (3 de maio), ao lançar a campanha Maio Amarelo, aumentar o tempo semafórico para a travessia.
O programa lançado pelo secretário Sergio Avelleda anunciou, dentre outras medias pontuais, a intenção de estender em 20% o tempo de travessia para pedestres programados nos semáforos da cidade. Aumentar o tempo semafórico em 20% significaria, por exemplo, que atravessar as 4 faixas da avenida Angélica, hoje com 5 segundos de sinal verde, passaria a ter o expressivo ganho de um segundo!
Uma pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da USP vem mostrar o quão grave é o problema da travessia em São Paulo. O estudo constatou que a velocidade média de pedestres paulistanos acima dos 60 anos, ao cruzar uma rua, é de 2,7 km /hora. Para se entender o que isso significa, os sinais de travessia da capital funcionam com base em 4,3 km/hora, ou estão sincronizados para que o pedestre percorra 1 metro de via a cada 12 segundos.
A pesquisa foi feita com apoio da Fapesp, do qual participaram 1.161 idosos, a maioria deles com dificuldades em alcançar a calçada oposta antes do semáforo entrar no vermelho.
A professora Etienne Duim, autora do trabalho publicado no Journal of Transport & Health, afirma que além de a velocidade não ser a adequada, é preciso lembrar que o aumento da população idosa no país (e em São Paulo) é crescente e inexorável.
O pesquisador José Leopoldo Antunes, que também atuou na pesquisa, aponta outro problema: tempos semafóricos curtos desestimulam a caminhada dos idosos. Muita gente de terceira idade prefere ficar presa em casa a ser atropelada por motoristas irresponsáveis nas ruas da capital. Menos caminhadas, mais problemas de saúde…
Idosos: mais vulneráveis são as maiores vítimas do trânsito
Análise do Observatório Paulista de Trânsito (OPT), do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran.SP), divulgada em outubro de 2016 com base nos dados do DataSUS (2014 para óbitos; 2015 para internações), apontava que os atropelamentos são metade das ocorrências dos óbitos de idosos no trânsito paulista (49,2%). Em seguida, aparecem os acidentes como ocupante de veículo (19,9%).
Aumentar o tempo semafórico em 20%, portanto, pode até ser um bom começo. Mas ainda está longe, muito longe de privilegiar a quem realmente importa na cidade: as pessoas.
O tempo semafórico curto para o pedestre, um atraso parido e gestado na engenharia de tráfego dos anos 70 que privilegiava a fluidez de veículos em detrimento da fluidez de pessoas, é o melhor indicador para saber o quanto uma cidade se importa com seus cidadãos. Quanto maior for o tempo para a travessia, maior será a possibilidade das pessoas caminharem e se apropriarem de suas cidades.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes

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