terça-feira, 23 de maio de 2017

Carros de passeio emitem 73% das emissões de poluentes em São Paulo, mas só transportam 30% das pessoas

Viaduto Dr. Plinio de Queiroz voltou a ser também dos carros. Estudo mostra que faixas de ônibus trazem mais benefícios que renovação de frota. Foto: Adriano Vizoni/Folhapress

Já os ônibus transportam mais e são responsáveis apenas por 3,1% dos poluentes. Faixas de ônibus ajudam mais o meio ambiente que renovação de frota, diz Iema
ADAMO BAZANI/ALEXANDRE PELEGI
Diário do Transporte
Os carros de passeio transportam apenas 30% das pessoas em São Paulo, mas são responsáveis por 72,6% das emissões de gases de efeito estufa do setor de transportes.
Já os ônibus municipais, de acordo com a pesquisa de Origem e Destino, transportam em média 40% das pessoas que se deslocam pela cidade, mas são responsáveis apenas por 3,1% das emissões na capital paulista.
Levando em consideração as emissões por passageiro por quilômetro, os carros e motos continuam sendo os campeões de poluição. Os carros emitem 65,8% de dióxido de carbono, as motocicletas são responsáveis por 35,6% e os ônibus municipais lançam no ar 17%.
Outro número que chama bastante a atenção é que os carros transportam apenas 30% das pessoas na cidade, mas ocupam 88% do espaço das vias. Os ônibus municipais, por sua vez, transportam 40% dos cidadãos, mas só ocupam 3% das vias.
Os dados são do Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte Rodoviário de Passageiros no Município de São Paulo, lançado nesta terça-feira, 23, pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) e foram antecipados pelo jornal O Estado de São Paulo.
Diante desses números, é reforçada a urgência de a cidade parar de privilegiar os carros nos investimentos e decisões políticas para definitivamente adotar uma postura de incentivo ao transporte coletivo de fato.
Mas, na prática, enquanto isso, o que se vê são projetos de corredores de ônibus travados e o congelamento da implantação de faixas para ônibus. Muito pelo contrário, alguns espaços que eram exclusivos do transporte coletivo, como o viaduto Doutor Plínio de Queiroz, na região da Avenida Nove de Julho, foram suprimidos e os ônibus novamente ganharam apenas uma faixa dividindo espaço com os carros.
Alguns parlamentares, inclusive, querem em nome do transporte individual, suprimir mais faixas de ônibus, como o vereador Aurélio Nomura, em relação à Avenida do Cursino.
FAIXAS DE ÔNIBUS COMBATEM A POLUIÇÃO:
A cidade de São Paulo deixou de investir em faixas de ônibus na gestão Doria.
De acordo com os números do Iema a postura atual é um erro.
Segundo o estudo, de 2012 para 2014 a velocidade dos veículos de transporte cresceu em média 14% em locais que passaram a ser servidos com faixas de ônibus. Isso resultou numa queda de 5% nas emissões de poluentes nestas regiões que foram contempladas com as faixas.
O estudo mostra que as faixas de ônibus tiveram para o meio ambiente e desempenho do sistema melhores resultados que a renovação de frota
A análise do consumo de combustível e emissão de poluentes também foi feita, e observou-se uma redução na taxa de consumo de diesel de 5,10% em decorrência da variação das velocidades entre os anos de 2012 e 2014 nas faixas estudadas. O mesmo resultado foi obtido para a emissão de poluentes locais e gases de efeito estufa, onde as taxas de emissão de óxidos de nitrogênio, material particulado e gases responsáveis pelo efeito estufa foram reduzidas em 7,33%, 6,07% e 5,06% respectivamente, indicando vantagens ambientais quanto à adoção de faixas exclusivas. Por outro lado, foi observado que durante o período estudado houve significativa mudança na composição da frota de ônibus municipais em termos de tamanho e fase tecnológica. Após a análise, constatou-se que as alterações na composição da frota, a qual teve um sensível aumento no porte dos veículos, resultou em um aumento de 0,45% no consumo de combustível por quilômetro, mas redução em 4,42% de emissão de material particulado por quilômetro.
Para chegarem a este resultado, os pesquisadores do Iema se basearam nas estimativas de emissões, tendo como referência os dados oficiais já disponíveis como a quilometragem que os veículos percorrem nas vias, fornecida pela CET – Companhia de Engenharia de Tráfego, e os fatores de emissões do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores – Proconve, que foram adaptados com o intuito de refletir o impacto de congestionamento nas velocidades.
E essa questão dos congestionamentos também é importante em relação às políticas de mobilidade urbana e privilégio ao transporte coletivo.
Quanto mais parados os carros, mais poluem. O mesmo ocorre com os ônibus. Assim, se os veículos de transporte coletivo fossem mais rápidos atrairiam mais pessoas que hoje usam o transporte individual. Além disso, poluiriam menos já que teriam desempenho melhor.
Se os ônibus hoje contassem com formas de tração menos poluentes, sua contribuição ao meio ambiente, que já é grande, seria ainda maior. Entretanto, a Lei de Mudanças Climáticas, que determina uma matriz energética limpa para os veículos de transporte coletivo de forma integral até 2018, não será cumprida.
Hoje o debate é em relação a como deixar os ônibus menos poluentes. Entretanto, essa discussão é formada por polêmicas e jogos de interesses. Nesta terça-feira, na Câmara Municipal será apresentado em primeira votação o projeto de lei do vereador Milton Leite que privilegia o biodiesel de maneira imediata nos ônibus da capital paulista. Todavia a proposta é criticada. De acordo com especialistas, o projeto foi apresentado sem discussão e estudos aprofundados, além de desconsiderar o potencial imediato de outras matrizes de energia que poderiam ser implantadas em maior escala. Relembre:
DIESEL É PROBLEMA TAMBÉM:
Apesar de o estudo comprovar que o vilão da poluição em São Paulo é o automóvel, juntamente com a motocicleta, a substituição do diesel por outras matrizes energéticas não deve ser descartada. Isso porque, em relação aos poluentes, os ônibus lideram as emissões de óxido de nitrogênio respondendo por 79% do que é lançado no ar desta substância, que é cancerígena.
Dependendo dos horários de circulação, os carros lideram as emissões de material particulado (MP) – 80% e de hidrocarbonetos não metanos (NMHC) – 87%, ambos relacionados a graves problemas respiratórios.
LEVANTAMENTO DE BANCO DE DADOS DA ANTP CONFIRMA QUE CIDADES BRASILEIRAS REPETEM VÍCIO DO USO DO CARRO
Levantamento da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), atualizado com dados de 2013, coletou informações de 438 municípios com mais de 60 mil habitantes em todo o Brasil. Nessas cidades vivem 123 milhões de pessoas (61% da população) e circulam 37 milhões de veículos (70% da frota). Pelos dados, os custos associados ao transporte individual correspondiam a 80% do total, apesar do transporte individual ser responsável por apenas 31% das viagens. Ou seja, apesar dos dados da Associação serem relativos ao país, eles repetem a situação verificada em São Paulo.
Ainda segundo o levantamento, os meios individuais de transporte no país, mesmo transportando 1/3 das pessoas, recebem três vezes mais recursos públicos do que os meios coletivos.
O custo público da mobilidade (o dinheiro gasto em todo o país), estimado pelo estudo da ANTP, estava na casa de R$ 11,2 bilhões em 2013. Desse total 77% foi gasto com o transporte individual, principalmente na manutenção de ruas e avenidas.
Para o consultor Eduardo Vasconcellos, ouvido pelo Diário do Transporte, só há um meio de mudar o estado das coisas: “é preciso afetar o bolso das pessoas”, diz ele. “Muito de nós estávamos agarrados à ilusão de que aumentar a qualidade do transporte coletivo seria suficiente para que as pessoas deixassem o carro em casa. Não basta. Além de melhorar o transporte público, é preciso cobrar da sociedade o verdadeiro custo de usar o automóvel como opção de transporte individual na cidade.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário