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Fabricantes dos veículos devem desfazer parceria e contratos de outros trechos de obras podem ser suspensos
ADAMO BAZANI
A implantação da linha 17 Ouro do monotrilho de São Paulo, que deveria servir a zona sul da capital paulista, e ter sido entregue em 2012 pode sofrer mais obstáculos.
De acordo com matéria do Jornal Valor Econômico, desta terça-feira, 23 de fevereiro de 2016, o metrô de São Paulo deve rescindir mais um contrato com consórcio de construtoras formado pela Andrade Gutierrez e CR Almeida. Em janeiro já tinham sido suspensos outros dois contratos com os mesmos grupos empresariais também por paralisação das obras, segundo o governo do estado.
O terceiro contrato a ser rescindido se refere a obras civis do elevado do monotrilho. Os outros dois se referem a um pátio para os trens leves e a estações.
A Andrade Gutierrez e CR Almeida, responsáveis pelos três lotes, alegam dificuldades financeiras, em parte atribuídas pelas empresas ao Metrô.
Em nota, a Andrade Gutierrez, uma das integrantes do consórcio, disse que os atrasos se deram por responsabilidade do Metrô e que no dia 10 de dezembro entrou na justiça para rescindir o contrato das obras.
“Há meses as empresas buscam uma negociação com o Metrô em relação aos problemas enfrentados nas obras, como a falta de liberações de frentes de serviço, fornecimento de projetos executivos e interfaces com demais contratos da Linha 17, atividades estas de responsabilidade do Metrô de São Paulo.”
O metrô respondeu dizendo que a construtora omitiu informações e que foi derrotada na Justiça.
Havendo a concretização de mais esta rescisão, serão suspensos três dos quatro contratos para construção do trajeto do monotrilho que, no ano passado, teve os projetos dos extremos congelados, segundo o metrô, por falta de verbas.
As obras para 17,7 quilômetros de monotrilho na linha 17 tinham custo estimado de R$ 3,9 bilhões, com previsão de entrega total em 2012. Hoje, o orçamento está 41% mais caro somando R$ 5,5 bilhões. Atualmente, o custo por quilômetro seria de R$ 310 milhões.
Hoje em dia só estão em andamento as obras de 7,6 quilômetros dos 17,7 quilômetros previstos. O trecho em andamento é de responsabilidade do consórcio TIDP -Tiisa e DP Barros.
O Metrô já começou o processo para o descredenciamento do terceiro trecho e já consulta empreiteiras participantes da licitação para continuar as obras.
O segundo colocado foi o consórcio formado por Queiroz Galvão, OAS, Bombardier Transit e Bombardier Transportation Brasil.
De acordo com a reportagem, porém, para este terceiro trecho, até o momento, apenas uma das quatro empresas do consórcio CMI, responsável pelo fornecimento do material rodante e por parte das obras civis, manifestou interesse em concluir o contrato. Trata-se da empresa Scomi, da Malásia, responsável pela fabricação dos trens.
PARCERIA PARA A PRODUÇÃO DOS TRENS DEVE SER DESFEITA:
Os entraves para linha 17 do monotrilho não se limitam à construção da linha e também envolvem a produção dos trens com pneus de borracha que vão circular em elevados.
Todas as questões relativas à linha 17 devem também influenciar na construção da linha 18 do monotrilho ABC Paulista, já que existe uma cláusula de contrato que diz que as obras da linha 18 só podem ser iniciadas após testes na linha 17, versão, entretanto, que não é interpretada desta maneira pelo Metrô.
De acordo com a mesma matéria de Valor Econômico, a empresa da Malásia Scomi e o grupo brasileiro MPE, que firmaram parceria para o fornecimento dos trens leves da linha 17 Ouro, devem se separar.
A empresa da Malásia deve assumir toda a encomenda. A MPE – Montagens e Projetos Especiais está sendo investigada na Operação Lava Jato e, de acordo com documentos internos do Metrô, analisados pelo Ministério das Cidades que aprova liberação de recursos federais para mobilidade, a situação econômica da MPE já preocupava o Governo do Estado de São Paulo desse o ano passado.
A MPE teria deixado de fazer pagamentos para a Scomi e a fabricação dos trens para o monotrilho na fábrica de Santa Cruz, zona oeste de São Paulo, sede da MPE, está paralisada há cerca de seis meses, de acordo com fontes do setor.
Já a Scomi não teria fornecido a equipamentos para os trens fabricados na fábrica da MPE em Santa Cruz.
A unidade em Santa Cruz foi reformada em 2012 para atender o pedido do Metrô de São Paulo.
Em nota, a Scomi informou que tem capacidade para cumprir as obrigações contratuais com o Metrô assumindo a parte da MPE. A empresa negou litígio, mas admitiu que “em qualquer parceria há dificuldades naturais para execução de um projeto de grande magnitude e amplo escopo”.
A Secretaria de Estado de Transportes Metropolitanos negou que haja até o momento atraso na produção dos trens do monotrilho pelo consórcio formado, além da Scomi e MPE, pelas construtoras Andrade Gutierrez e CR Almeida – responsáveis pelas obras civis.
As construtoras alegaram dificuldades financeiras, algumas atribuídas à forma de contrato com o Metrô.
Inicialmente o monotrilho da linha 17 deveria ter 24 trens com 3 carros (vagões) cada um, somando 72 carros (entre de tração e só para passageiros). Agora, a encomenda foi reduzida um pouco, para 70 unidades, sendo 14 trens com 5 carros cada.
O motivo é o atraso das obras por causa de problemas em relação ao projeto e à questões de licenciamento ambiental e a redução do traçado original.
O Governo do Estado de São Paulo, em agosto de 2015, anunciou o congelamento da previsão de início das obras de 17 das 36 prestações que foram previstas inicialmente para os monotrilhos das linhas 15 Prata – Zona Leste e 17 – Ouro – Zona Sul. As obras da linha 18 Bronze – ABC/Tamanduateí estão sem previsão de início.
Estas estações ficam nos extremos das linhas 15 e 17.
Na linha 15, não devem ser iniciadas tão já as obras entre o Hospital Cidades Tiradentes e Iguatemi e entre Vila Pudente e Ipiranga.
No caso da linha 17, as estações entre o Morumbi e a região da Favela do Paraisópolis e entre o Aeroporto de Congonhas e o Jabaquara estão sem cronograma definido.
A Scomi informou que as unidades do monotrilho que deveriam ser feitas no Rio de Janeiro vão ter partes executadas no Brasil e em outros países. Os dois primeiros trens estão sendo fabricados na Malásia. A continuidade da produção deve ocorrer numa nova unidade para construção de monotrilhos que ainda vai ser implantado em Taubat,é no interior de São Paulo.
A planta deve atender outros projetos como para os trens do monotrilho da linha 18 Bronze, do ABC, ligação que segue indefinida por problemas contratuais, como a previsão do início das obras só depois de testes da linha 17, falta de verbas e dificuldades encontradas no traçado e ainda não resolvidas plenamente, como galerias de água na Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Bernardo do Campo, onde devem ser implantadas as vigas para o elevado.
ATRASOS, PARALISAÇÕES E CONGELAMENTOS:
O Governo de São Paulo prometeu entregar entre 2012 e 2015, um total de 59,7 quilômetros de monotrilhos em três linhas. Apenas 2,9 quilômetros entre as estações Oratório e Vila Prudente, da linha 15 Prata estão em operação e ainda com horário menor que dos trens, metrô e ônibus.
Duas linhas, a 15- Prata e a 17 – Ouro, que somam 44 quilômetros estão em construção, sendo que 21,9 quilômetros foram congelados.
Na linha 15 Prata está paralisado o cronograma do trecho entre São Mateus e Cidade Tiradentes, na zona Leste de Sã Paul. Já linha 17- Ouro estão sem previsão de conclusão as obras do trecho entre o aeroporto de Congonhas até Jabaquara e no outro extremo, da Marginal Pinheiros até a região posterior ao Morumbi, atendendo a área da favela do Paraisópolis.
A situação da linha 18 – Bronze, de 15,7 quilômetros, entre o ABC Paulista e a Capital, é mais problemática ainda. As obras não começaram. Há problemas financeiros, de contrato, como a cláusula que prevê o início das obras depois de testes da linha 17, que não está em funcionamento, de desapropriações e entraves que vão desde a aplicação do tipo de composições até galerias de água não equacionadas. Apesar de o contrato ter sido assinado com o grupo que vai construir e operar o sistema, a questão levantada por especialistas é se não seria mais vantajoso desistir da construção que ainda não foi iniciada e optar por metrô ou BRT. Os outros monotrilhos cujas obras já foram iniciadas deveriam ser concluídas.
O engenheiro e mestre em Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia – IME, Marcus Vinicius Quintella Cury, elaborou um estudo intitulado “A verdadeira realidade dos monotrilhos urbanos – Sonho ou Utopia: De volta ao Futuro?”. No levantamento de sistemas em diversas partes do mundo, o especialista mostra que vários fatores levaram à desativação de linhas de monotrilho:
OS MONOTRILHOS DE SÃO PAULO:
A linha 15 Prata deveria ter 26,7 quilômetros de extensão, 18 estações entre Ipiranga e Hospital Cidade Tiradentes ao custo R$ 3,5 bilhões com previsão de entrega total em 2012. Agora, o orçamento está 105% mais alto, com o valor de R$ 7,2 bilhões. O custo por quilômetro sairia hoje por R$ 269 milhões. A previsão de 9 estações agora é para 2018. Está congelado o trecho entre Hospital Cidade Tiradentes e Iguatemi e Vila Prudente-Ipiranga. O governo do estado promete atendimento a uma demanda de 550 mil passageiros por dia
A linha 17 Ouro do monotrilho deveria ter 17,7 quilômetros de extensão, com 18 estações entre Jabaquara, Aeroporto de Congonhas e região do Estádio do Morumbi ao custo de R$ 3,9 bilhões com previsão de entrega total em 2012. Hoje, o orçamento está 41% mais caro somando R$ 5,5 bilhões e a previsão para a entrega de 8 estações até 2017. Atualmente, o custo por quilômetro seria de R$ 310 milhões. O monotrilho, se ficar pronto, não deve num primeiro momento servir as regiões mais periféricas. Assim, os trechos entre Jabaquara e a Aeroporto de Congonhas e entre depois da Marginal do Rio Pinheiros até a região do Estádio São Paulo-Morumbi, passando por Paraisópolis, estão com as obras congeladas. Com este congelamento, não haverá as conexões prometidas com a linha 4 Amarela do Metrô na futura estação São Paulo – Morumbi, e nem com estação Jabaquara e da Linha 1 Azul do Metrô e Terminal Metropolitano de Ônibus e Trólebus Jabaquara, do Corredor ABD. Segundo o site do próprio Metrô, quando estiver totalmente pronto, este sistema de monotrilho atenderá 417 mil e 500 passageiros por dia.
A linha 18 Bronze deveria ter 15,7 quilômetros de extensão, com 13 estações entre a região do Alvarenga, em São Bernardo do Campo, até a estação Tamanduateí, na Capital Paulista ao custo de R$ 4,5 bilhões com previsão de entrega total em 2015. Agora, o orçamento está 14% mais caro, chegando a R$ 4,8 bilhões, sem previsão de entrega. A previsão de demanda é de até 340 mil passageiros por dia, quando completo. O custo hoje por quilômetro seria de R$ 305 milhões. Como as obras não começaram, especialistas defendem outro meio de transporte para a ligação, como um corredor de ônibus BRT, que pode ser até 10 vezes mais barato com capacidade de demanda semelhante.
COMPARAÇÕES ENTRE MODAIS NA PRÁTICA:
Para se determinar a vantagem de um modal em relação a outro deve ser levar em conta o custo de construção por quilômetro e a demanda atendida por dia, além do custo de operação, que vai implicar em maior tarifa e necessidade de mais subsídios.
Em linhas gerais, o quilômetro de um BRT – Bus Rapid Transit, sistema moderno de corredores de ônibus, custa em torno de R$ 35 milhões podendo ser atendida uma demanda diária entre 50 mil e 340 mil pessoas. O custo por quilômetro de um monotrilho é de em torno de R$ 250 milhões com uma demanda diária entre 50 mil e 400 mil passageiros.
O custo por quilômetro de um VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, espécie de um bonde moderno, é de entre R$ 60 milhões e R$ 100 milhões, com demanda atendida entre 50 mil 300 mil passageiros.
O custo por quilômetro de metrô subterrâneo é de R$ 1 bilhão, podendo ser atendidos por dia entre 500 mil e 900 mil passageiros.
Mas na prática, como serão o atendimento e os custos projetados dos modais? Com base em dados das próprias gerenciadoras de transportes, o Blog Ponto de Ônibus traz as seguintes comparações:
MONOTRILHO – LINHA 18 – ABC
Extensão – 15,7 quilômetros
Custo das obras – R$ 4,8 bilhões
Preço por quilômetro – R$ 305 milhões 732 mil
Demanda atendida -314 mil pessoas por dia
SISTEMA DE BRT DO RIO DE JANEIRO
– Extensão atual já em operação – 91 quilômetros (TransOeste e Transcarioca)
– Custo já investido – R$ 2 bilhões 651 milhões
– Preço por quilômetro – R$ 28,9 milhões
– Demanda atendida: 430 mil pessoas por dia
QUANDO REDE ESTIVER PRONTA – previsão 2017
– Extensão de rede municipal concluída – 157 km (TransOeste, TransCarioca, TransBrasil e TransOlímpica)
– Custo previsto (incluindo o já investido e que está em operação): R$ 5,6 bilhões
– Custo por quilômetro: R$ 35,66 milhões
– Demanda geral – 2 milhões de passageiros por dia
Maior BRT do sistema do Rio em capacidade será o TransBrasil, na avenida Brasil, com 28 km de extensão, 33 estações, cinco terminais, entre Deodoro e centro do Rio, deve atender 820 mil pessoas por dia
VLT BAIXADA SANTISTA:
Extensão – 16,6 quilômetros – sistema completo
Custo das Obras – R$ 1,2 bilhão
Custo por quilômetro – R$ 72,28 milhões
Demanda atendida com sistema completo – 80 mil pessoas por dia
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