segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Licitação da Área 5 é adiada de novo, mas é fácil só culpar Baltazar

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Ônibus velhos, mal conservados, linhas desatualizadas continuaram a castigar os passageiros do ABC por mais um tempo. Licitação da Área 5 da EMTU foi adiada de novo. Foto: Adamo Bazani
Licitação da Área 5 da EMTU adiada de novo
Concorrência que poderia trazer melhorias para a população do ABC foi impugnada a pedido de Baltazar e não tem data para ser realizada
ADAMO BAZANI – CBN
Os passageiros que dependem de ônibus intermunicipais no ABC Paulista ainda devem ficar mais um tempo convivendo com veículos velhos, sem acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida, que quebram constantemente e com empresas do padrão de serviços da EAOSA – Empresa Auto Ônibus Santo André e Viação Ribeirão Pires, consideradas as piores do Estado de São Paulo, de acordo com o ranking do IQT – Índice de Qualidade da EMTU – Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos.
Novamente a licitação da Área 5 da EMTU foi adiada.
As propostas deveriam ser recebidas no dia 11 de novembro de 2014 no auditório da EMTU, em São Bernardo do Campo. Não há uma nova data para a concorrência.
A licitação foi impugnada a pedido do empresário Baltazar José de Souza, dono da EAOSA, Viação Ribeirão Pires, Viação São Camilo e EUSA – Empresa Urbana Santo André.
O Grupo BJS, de Baltazar, está em recuperação judicial e alega que a concorrência prejudicaria o processo.
O adiamento da concorrência foi publicado no Diário Oficial do Estado, que pode ser conferido neste link:
BALTAZAR NÃO É O ÚNICO RESPONSÁVEL:
Desde 2006, a EMTU tenta sem nenhum sucesso licitar as linhas intermunicipais que ligam Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e a Capital Paulista.
Já são cinco tentativas em vão.
Apesar de os recentes adiamentos serem pedidos do grupo de Baltazar José de Sousa, considerado um dos maiores devedores individuais da União, os entraves à licitação da área 5 não podem ser atribuídos apenas ao empresário do Grupo dos Mineiros.
Todos os empresários de ônibus da região, pela AETC/ABC – Associação das Empresas de Transporte Coletivo do ABC, desde 2006 se colocaram contra a licitação.
Na alegação dos empresários, as companhias de ônibus do ABC não podem seguir às mesmas exigências das outras quatro áreas que foram licitadas em 2006, porque os custos de operação na região são maiores, com os salários dos motoristas e cobradores estando entre os maiores da categoria do País.
Alegam também que as vias da região degradam os veículos. No entanto, a reportagem constatou nas outras áreas, ruas e avenidas em igual ou pior estado, mas com ônibus de melhor qualidade.
Os empresários também dizem que a licitação não levava em consideração os impactos do monotrilho entre São Bernardo do Campo e do Expresso ABC, linha rápida de trens da CPTM, paralela à linha 10 Turquesa (Rio Grande da Serra – Brás).
Ocorre que estes contratos, se fossem assinados em 2006, venceriam em 2016, ano no qual nem o monotrilho e muito menos o Expresso ABC estariam em pleno funcionamento.
Fontes ligas às próprias empresas são categóricas. A preocupação dos empresários não é nem a questão da renovação da frota, mas a possível divisão do sistema em consórcios e um novo modelo de gestão e operação.
O ABC Paulista é loteado em poucas famílias com eventualmente empresários menores operando algumas linhas.
A quebra deste loteamento, dizem as fontes, tiraria dos empresários uma zona de conforto e complacência entre eles e alguns integrantes do segundo escalão da EMTU.
Como se explica ônibus da EAOSA e Ribeirão Pires, travando o trânsito das cidades do ABC porque quebram constantemente, soltando fumaça preta e até colocando em risco a segurança de passageiros, pedestres e motoristas, circulando normalmente enquanto empresas com serviços melhores são sumariamente expulsas de sistemas municipais, como ocorreu com a Leblon em Mauá?
Será que a EMTU não tem autoridade de intervir nas empresas com os piores serviços, independentemente de realizar ou não uma nova licitação?
É, no mínimo, para questionar, desconfiar e lamentar.
Mesmo sendo por intermédio de Baltazar, a impugnação caiu como uma luva para todos os empresários do ABC Paulista que sempre foram contra a licitação.
Se a concorrência para um contrato de dois anos, já que outra licitação deve ser realizada em 2016 junto com as outras quatro áreas, não atrairia empresários novos de outras regiões, quanto mais um contratozinho de um ano se (veja bem – se) a licitação sair em 2015.
Além disso, Baltazar José de Sousa, Ronan Maria Pinto (o mesmo dono do jornal Diário do Grande ABC) e outros se beneficiaram – e muito – com o caso Leblon.
O descredenciamento que o prefeito de Mauá, Donisete Braga, e o ex-secretário de mobilidade urbana, o candidato derrotado a deputado estadual, Paulo Eugênio, impuseram à Leblon e à Viação Cidade de Mauá, de Baltazar, deixou bem claro que o empresário que é de fora da região mas que não faz parte ou não tem nenhuma relação com o grupo dos mineiros vai sofrer problemas.
A Viação Cidade de Mauá foi descredenciada e, depois de onze meses, ainda opera algumas linhas. Donisete Braga tirou de uma vez só a Leblon.
Suzantur, a operadora municipal de Mauá, não é de Baltazar, mas ocupa sua garagem no Jardim Zaíra 4, usa ônibus que foram da Estrela de Mauá, empresa fundada por Baltazar, e teve como representantes ex-diretores da Estrela de Mauá, como David Barione Neto.
Isso desestimula outros investidores.
Foi o mesmo que ocorreu com o Grupo Júlio Simões em 2008 na licitação de Santo André que, apesar de oferecer um repasse maior – de 2% – aos cofres públicos, foi retirado da concorrência. O Grupo Júlio Simões disputava com o Consórcio União Santo André, liderado pelo empresário de ônibus e dono de jornal, Ronan Maria Pinto, e integrado também por Baltazar José de Sousa. Enquanto Júlio Simões ofereceu repasse de 2%, o vencedor União Santo André ofereceu apenas 0,5%
Os motivos para a derrota do Grupo Júlio Simões foram explicados pela gestão de Santo André, à época, mas nem todos viram a uma lógica neles. Assim como nem a procuradora do município de Mauá, Thaís de Almeida Miana, se mostrou favorável à retirada da Leblon que pertence à família Isaak, que não tem nenhuma relação com o grupo dos empresários do ABC e nem com bancos que financiam ônibus e para os quais estes empresários devem muito dinheiro, como o Caruana.
Mas uma vez, o ABC Paulista segue na contramão da mobilidade eficiente e de uma gestão pública que deveria governar para o povo.

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