De acordo com o estudo da Universidade de Lancaster, nanopartículas de poluentes podem contribuir para o Alzheimer. Já Observatório do Clima diz que transportes estão entre os principais emissores de poluição no Brasil, que precisa rever metas
ADAMO BAZANI
Se o problema da poluição já era extremamente preocupante, o alerta agora é para uma situação que pode ser ainda mais grave.
Até então havia certeza de que a poluição prejudicava principalmente o pulmão e o coração. Mas nesta semana, cientistas da Universidade de Lancaster, da Grã Bretanha, coordenados pela professora Bárbara Maher, comprovaram que nanopartículas de poluentes atmosféricos conseguem chegar ao cérebro e há a possibilidade de contribuírem para doenças como o Alzheimer.
Os resultados foram publicados na revista científica norte-americana, Proceedings of the National Academy of Sciences –PNAS, uma das mais renomadas do segmento: “partículas menores a 200 nanômetros são suficientemente pequenas para entrar no cérebro através do nervo olfativo”.- diz parte do estudo.
Para realizarem o estudo, os cientistas analisaram tecidos cerebrais de 37 mortos dos quais 29, com idades entre 3 e 85 anos moravam na Cidade do México, que possui os maiores índices de poluição, e oito idosos de Manchester, na Inglaterra, que durante a vida possuíam doenças neurodegenerativas.
O estudo também revela que as partículas encontradas nos cérebros dos mortos são geradas no ambiente urbano, típicas dos poluentes por causa do excesso de veículos, por exemplo: “nanoesferas” de óxido de ferro – sensível ao campo magnético -, abundantes no ar contaminado urbano, resultado da combustão ou fricção.
O estudo precisa avançar e verificar a relação exata entre as doenças cerebrais e as partículas encontradas.
Entre as partículas estão as de magnetita.
As partículas maiores são barradas no nariz e as menores vão para os pulmões pela corrente sanguínea. As minúsculas têm a capacidade de se conectar aos nervos e podem, assim, seguir direto para o cérebro.
Os cientistas verificam que estas partículas podem quebrar conexões entre as células cerebrais, como ocorre com doenças como o Alzheimer.
BRASIL FAZ PEDALADAS AMBIENTAIS:
Quase que simultaneamente à divulgação do resultado do estudo da Universidade de Lancaster, o Observatório do Cima mostrava na última terça-feira, 6 de setembro, que o Brasil precisa ainda se preocupar muito em relação à poluição.
O Brasil deve cumprir com folga a meta estabelecida no acordo climático de Paris para 2030. Isso, entretanto, não significa grande alívio. É que a metodologia usada no Brasil é diferente dos países europeus em relação às emissões de carbonos e ao desmatamento.
Fazendo os ajustes, verifica-se que a folga já seria menor e que, em vez de reduzir, o Brasil aumenta a poluição.
Quando a proposta brasileira foi feita em 2005, a previsão de redução de emissões era de 37% para 2015 e 43% para e 2030, o que resultaria em 1,3 gigatonelada em 2015 e 1,2 gigatonelada em 2030. Mas em maio de 2016, com a revisão da metodologia, pelo Terceiro Inventário Nacional de Gases do Efeito Estufa revisou para cima as emissões de 2005, de 2,1 gigatoneladas para 2,8 gigatoneladas.
Assim, os 37% e 43% de metas incidiram sobre um número maior, com resultados maiores.
Com o ajuste, em 2030 devem ser lançados no ar 1,6 gigatonelada, acima das emissões brasileiras atuais e da 1,2 gigatonelada anunciada anteriormente.
Na prática, é como se o Brasil tivesse autorização por meio da manipulação dos números, de aumentar a poluição em vez de reduzir e ainda colher louros na Comunidade Internacional.
Em entrevista coletiva, coordenador-geral do Observatório do Clima, André Ferretti, diz que isso pode constranger o Brasil.
“Isso criaria um constrangimento enorme para o Brasil num momento em que o país se prepara para colher aplausos da comunidade internacional por ser um dos primeiros grandes poluidores a ratificar o Acordo de Paris.”
O Observatório do Clima defende para corrigir a distorção, a criação de novas metas de redução demissões de Gases de Efeito Estufa – GEE: para 53% em 2025 e 57% em 2030.
Com isso, em 2030 haveria uma redução de verdade: 1,047 gigatonelada de CO2 equivalente e não 1,2 gigatonelada com a meta tendo como base os números não corrigidos.
O Observatório do Clima mostra também que a principal causa de poluição no Brasil foi o desmatamento que, mesmo tendo sido reduzido em 80% desde 2005, ainda é responsável por 42% das emissões, de acordo com os dados mais recentes de 2014.
Entretanto a maior preocupação se dá justamente no setor de transportes e energia, que aparecem em segundo lugar com 26% das emissões no Brasil. Isso porque o desmatamento caiu 80% desde 2005 e se manteve estável nos últimos cinco anos. Já as emissões, principalmente pelos carros, têm crescido, segundo o relatório.
E as soluções são bem conhecidas: incentivo ao transporte público eficiente para reduzir o total de veículos em circulação e também formas de melhorar a eficiência ambiental do transporte público, com maiores redes metrô e implantação de ônibus não poluentes ou menos poluentes, como os elétricos puros, trólebus, híbridos, gás natural, etanol entre outros.
Se o desmatamento é responsável pelas emissões de gases de efeito estufa em todo território nacional, nos centros urbanos as emissões veiculares podem responder por até 80% da poluição.
Tenha acesso a vários estudos neste link:https://blogpontodeonibus.wordpress.com/2016/07/20/os-efeitos-da-poluicao-do-ar-na-saude-no-total-de-mortes-pre-maturas-e-na-economia/
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
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