quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Poluição afeta o cérebro e Brasil precisa reduzir emissões por transportes sem “Pedalada Ambiental”

trolebusEstudos comprovam redução de poluentes onde são instalados sistemas de transportes que provocam queda da circulação de veículos particulares. Ganhos são maiores se sistemas forem concebidos com tecnologias que gerem menos emissões na operação.

De acordo com o estudo da Universidade de Lancaster, nanopartículas de poluentes podem contribuir para o Alzheimer. Já Observatório do Clima diz que transportes estão entre os principais emissores de poluição no Brasil, que precisa rever metas
ADAMO BAZANI
Se o problema da poluição já era extremamente preocupante, o alerta agora é para uma situação que pode ser ainda mais grave.
Até então havia certeza de que a poluição prejudicava principalmente o pulmão e o coração. Mas nesta semana, cientistas da Universidade de Lancaster, da Grã Bretanha, coordenados pela professora Bárbara Maher, comprovaram que nanopartículas de poluentes atmosféricos conseguem chegar ao cérebro e há a possibilidade de contribuírem para doenças como o Alzheimer.
Os resultados foram publicados na revista científica norte-americana, Proceedings of the National Academy of Sciences –PNAS, uma das mais renomadas do segmento: “partículas menores a 200 nanômetros são suficientemente pequenas para entrar no cérebro através do nervo olfativo”.- diz parte do estudo.
Para realizarem o estudo, os cientistas analisaram tecidos cerebrais de 37 mortos dos quais 29, com idades entre 3 e 85 anos moravam na Cidade do México, que possui os maiores índices de poluição, e oito idosos de Manchester, na Inglaterra, que durante a vida possuíam doenças neurodegenerativas.
O estudo também revela que as partículas encontradas nos cérebros dos mortos são geradas no ambiente urbano, típicas dos poluentes por causa do excesso de veículos, por exemplo: “nanoesferas” de óxido de ferro – sensível ao campo magnético -, abundantes no ar contaminado urbano, resultado da combustão ou fricção.
O estudo precisa avançar e verificar a relação exata entre as doenças cerebrais e as partículas encontradas.
Entre as partículas estão as de magnetita.
As partículas maiores são barradas no nariz e as menores vão para os pulmões pela corrente sanguínea. As minúsculas têm a capacidade de se conectar aos nervos e podem, assim, seguir direto para o cérebro.
Os cientistas verificam que estas partículas podem quebrar conexões entre as células cerebrais, como ocorre com doenças como o Alzheimer.
BRASIL FAZ PEDALADAS AMBIENTAIS:
Quase que simultaneamente à divulgação do resultado do estudo da Universidade de Lancaster, o Observatório do Cima mostrava na última terça-feira, 6 de setembro, que o Brasil precisa ainda se preocupar muito em relação à poluição.
O Brasil deve cumprir com folga a meta estabelecida no acordo climático de Paris para 2030. Isso, entretanto, não significa grande alívio. É que a metodologia usada no Brasil é diferente dos países europeus em relação às emissões de carbonos e ao desmatamento.
Fazendo os ajustes, verifica-se que a folga já seria menor e que, em vez de reduzir, o Brasil aumenta a poluição.
Quando a proposta brasileira foi feita em 2005, a previsão de redução de emissões era de 37% para 2015 e 43% para e 2030, o que resultaria em 1,3 gigatonelada em 2015 e 1,2 gigatonelada em 2030. Mas em maio de 2016, com a revisão da metodologia, pelo Terceiro Inventário Nacional de Gases do Efeito Estufa revisou para cima as emissões de 2005, de 2,1 gigatoneladas para 2,8 gigatoneladas.
Assim, os 37% e 43% de metas incidiram sobre um número maior, com resultados maiores.
Com o ajuste, em 2030 devem ser lançados no ar 1,6 gigatonelada, acima das emissões brasileiras atuais e da 1,2 gigatonelada anunciada anteriormente.
Na prática, é como se o Brasil tivesse autorização por meio da manipulação dos números, de aumentar a poluição em vez de reduzir e ainda colher louros na Comunidade Internacional.
Em entrevista coletiva, coordenador-geral do Observatório do Clima, André Ferretti, diz que isso pode constranger o Brasil.
“Isso criaria um constrangimento enorme para o Brasil num momento em que o país se prepara para colher aplausos da comunidade internacional por ser um dos primeiros grandes poluidores a ratificar o Acordo de Paris.”
O Observatório do Clima defende para corrigir a distorção, a criação de novas metas de redução demissões de Gases de Efeito Estufa – GEE: para 53% em 2025 e 57% em 2030.
Com isso, em 2030 haveria uma redução de verdade: 1,047 gigatonelada de CO2 equivalente e não 1,2 gigatonelada com a meta tendo como base os números não corrigidos.
O Observatório do Clima mostra também que a principal causa de poluição no Brasil foi o desmatamento que, mesmo tendo sido reduzido em 80% desde 2005, ainda é responsável por 42% das emissões, de acordo com os dados mais recentes de 2014.
Entretanto a maior preocupação se dá justamente no setor de transportes e energia, que aparecem em segundo lugar com 26% das emissões no Brasil. Isso porque o desmatamento caiu 80% desde 2005 e se manteve estável nos últimos cinco anos.  Já as emissões, principalmente pelos carros, têm crescido, segundo o relatório.
E as soluções são bem conhecidas: incentivo ao transporte público eficiente para reduzir o total de veículos em circulação e também formas de melhorar a eficiência ambiental do transporte público, com maiores redes metrô e implantação de ônibus não poluentes ou menos poluentes, como os elétricos puros, trólebus, híbridos, gás natural, etanol entre outros.
Se o desmatamento é responsável pelas emissões de gases de efeito estufa em todo território nacional, nos centros urbanos as emissões veiculares podem responder por até 80% da poluição.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

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