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Confira os principais estudos artigos e levantamentos que comprovam de maneira técnica que transporte coletivo é essencial para a preservação da vida humana
ADAMO BAZANI
Dizer que a poluição mata e que as medidas atualmente tomadas pelas cidades em todo mundo são insuficientes não é coisa dos popularmente chamados “ecochatos” e parece até algo óbvio. No entanto, é sempre bom ter dados que comprovem que a poluição é muito mais nociva do que muita gente pensa e que a ampliação das redes de transportes, tanto por trilhos como por ônibus é essencial para a preservação da vida humana.
Não existe catastrofismo nestes estudos, mas levantamentos de dados reais. Pelo contrário, em muitos casos, há possibilidade de números subestimados.
Por isso, o Blog Ponto de Ônibus traz nesta reportagem especial, alguns dos principais estudos nacionais e internacionais que alertam para o problema e, não somente isso, mas mostram soluções para gestores públicos, para a iniciativa privada, para os operadores de serviços como de mobilidade urbana e toda a população.
São extensos trabalhos importantes para as discussões dos problemas e também para servir de base para outros estudos. Este é o intuito da reportagem do Blog Ponto de Ônibus: reunir pelo menos alguns dos materiais importantes do vasto universo acadêmico para contribuir assim na busca para que as cidades ofereçam uma vida melhor a todos.
Além do estímulo ao transporte público, os estudos mostram a necessidade da mudança da matriz energética, não dependendo apenas de combustíveis fósseis, em especial o óleo diesel, para movimentar os ônibus: ônibus híbridos, trólebus, ônibus elétricos a bateria, o ônibus a gás natural, ônibus a etanol, biodiesel, biocombustível, diesel de cana de açúcar… enfim, alternativas não faltam.
Não existe uma fórmula mágica e seria ingenuidade depender apenas de uma alternativa.
Os estudos mostram que o ideal é haver uma frota com “mix” de tecnologias para reduzir dependências econômicas e sociais em relação a fabricantes de insumos e veículos.
Os investimentos em sistemas de trilhos também são essenciais para que as cidades sejam mais amigáveis dos pontos de vista de mobilidade urbana, de ocupação de solo e ambiental.
A exemplo dos ônibus, também não existe uma fórmula mágica: metrô de alta capacidade subterrâneo, monotrilho, VLT- Veículos Leves Sobre Trilhos, entre outras soluções, são bem-vindas desde que estudos isentos e técnicos comprovem que sejam adequadas para as demandas e ligações a que são propostas. Nos investimentos, deve haver respeito com dinheiro público, não esbanjar recursos em sistemas extremamente caros com capacidade limitada, mas deve-se pensar também no futuro e na projeção de aumento de demanda. Assim, é importante constatar se o modal metroferroviário proposto vai nascer saturado ou se daqui a alguns anos sua ligação não será tão mais importante.
AIE DIZ QUE 36 MIL PESSOAS PODEM MORRER NO BRASIL POR CAUSA DA POLUIÇÃO:
Estudo denominado Energy and Air Pollution -Energia e Poluição do Ar, da AIE – Agência Internacional de Energia, divulgado em 27 de junho de 2016, mostra que 6,5 milhões de pessoas morrem por ano em todo o mundo devido à poluição do ar. O setor de transportes está entre os principais culpados.
“Cerca de 18 000 pessoas morrem a cada dia, como resultado da poluição do ar. De facto, o número de mortes atribuídas à poluição do ar é a cada ano – 6,5 milhões de mortes -, de acordo com a Organização Mundial da Saúde Organization (WHO), muito maior do que o número de HIV / AIDS, a tuberculose. A poluição do ar também traz grandes custos para a economia e danos ao meio Ambiente. A produção e utilização de energia é a mais importante fonte de poluição do ar proveniente de atividade humana e, portanto, por estas razões, a AIE tem – pela primeira vez – empreendeu um importante estudo sobre o papel da energia na poluição do ar.” – mostra o estudo logo em sua abertura.
A estimativa é que atualmente 22 mil pessoas perdem a vida prematuramente por ano, em média no Brasil, por exposição a poluentes fora de casa, em especial no ambiente urbano. Em 2040, 36 mil pessoas podem morrer no Brasil por causa da má qualidade do ar, considerando apenas a expansão da economia, sem contar novas formas de uso de combustíveis fósseis, como em carros a diesel, hoje em debate no Congresso.
Se as medidas adequadas forem tomadas agora, como ampliação das redes de transportes públicos e a redução da dependência do petróleo, o número de mortes em 2040 pode ser reduzido para 13 mil ao ano, que é considerado ainda muito alto, mas não deixando de ser um patamar bem inferior ao projetado sem as ações indicadas.
Veja tabela que se encontra originalmente na página 89 do estudo
Na página 25, do estudo da AIE, é demonstrado que o setor de transportes é um dos principais responsáveis pela emissão de Óxido de Nitrogênios e monóxidos de carbono, substâncias altamente cancerígenas.
Na página 27, o mesmo estudo mostra que na América Latina os transportes dependentes do Petróleo são responsáveis por mais da metade das emissões de óxidos de nitrogênio.
O relatório ainda mostra que a oferta insuficiente de transportes de massa (ônibus e metrô) aliada a densidade populacional nas áreas urbanas e os volumes de tráfego do transporte individual são fatores de riscos para aumentar a poluição – na pagina 29
“As cidades fornecem meios eficientes para melhorar o acesso a serviços a uma grande população, mas isso também pode apresentar desafios, como o congestionamento do transporte rodoviário e da emissão concentrada de poluentes do ar em uma área densamente povoada. Redes rodoviárias densas e elevados volumes de tráfego, oferta insuficiente de transporte de massa, densidade de construção e altura dos edifícios, dinâmica topográficas e meteorológicas podem ser fatores de risco de poluição do ar.”
O Brasil aparece entre os países do mundo onde há mais mortes por causa da poluição. O número é de aproximadamente 30 pessoas a cada 100.000 habitantes, segundo a OMS – Organização Mundial da Saúde. É bem inferior ao que ocorre na China e na Geórgia, por exemplo, mas está acima de nações com desenvolvimento industrial elevado, como Estados Unidos e França, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas de 2012
DIESEL É UM DOS PRINCIPAIS VILÕES PARA O AR:
Os dados do estudo da AIE, considerado um dos mais completos que relacionam poluição à energia, mostram que o uso do diesel tem causado grande impacto nas emissões de poluição. Mesmo com as tecnologias que deixam o combustível mais limpo, no Brasil, por exemplo, a relação entre frota e emissões, mostra que o total de poluentes lançados no ar por veículos a diesel é proporcionalmente mais de três vezes maior que a participação no total da frota brasileira. – página 51
O diesel mais limpo pode ter efeitos positivos, mas insuficientes.
De acordo com o estudo, onde houve a mudança dos padrões do diesel Euro 5, em 2009, para Euro 6, em 2014, havia uma previsão de queda de 55% nas emissões de óxido de nitrogênio – NOx, substância que pode ser cancerígena e até matar animais e vegetais. No entanto, a queda real foi de menos de 25%. Além disso, as emissões reais podem ser de cinco a sete vezes mais altas do que os testes realizados nos laboratórios. Já os carros movidos à gasolina poluíram 20% mais, mesmo com o combustível mais limpo.
O Trabalho da AIE na íntegra, você acessa aqui (está em inglês):
Mais um estudo mostra que diesel é um dos combustíveis mais agressivos à saúde:
Os hidrocarbonetos que compõem a gasolina são mais leves do que aqueles que compõem o óleo diesel por serem formados por moléculas de menor cadeia carbônica (normalmente cadeias de 4 a 12 átomos de carbono), com isso a gasolina se torna menos poluente do que o diesel.
Estudo realizado pela Universidade da Califórnia, em 2012, mostra que o óleo diesel, mesmo nas suas formas mais limpas, pode produzir sete vezes mais aerossóis orgânicos secundários (AOS). Os aerossóis são partículas sólidas ou líquidas nocivas à saúde. Os primários são emitidos diretamente pelo escapamento de um automóvel. Já os secundários são formados na atmosfera a partir dos gases liberados pelo cano de descarga de um carro ou de um ônibus, por exemplo. O estudo pode ser baixado em:http://www.pnas.org/content/109/45/18318.abstract
ÔNIBUS ELÉTRICOS PODEM EVITAR GRANDES EMISSÕES DE DIESEL:
A operação dos cerca de 200 trólebus que ligam a região Central à zona Leste da cidade reduziu a emissão de gás carbônico na Capital Paulista.
“Em 2013, por causa dos trólebus deixaram de ser lançadas no ar 13 mil 814 toneladas de CO₂. Além disso, os ônibus elétricos pouparam 5,3 milhões de litros de diesel.
No ano passado (2013), os trólebus operados pela Ambiental Transportes percorreram 9 milhões 975 mil 971 quilômetros.
Em nota à imprensa, o engenheiro e coordenador do Grupo de Trabalho de Trólebus da União Internacional de Transporte Público Divisão América Latina (UITP-DAL), Roberto Bartolomeu Berkes, diz que hoje os ônibus elétricos possuem soluções tecnológicas que reduzem as ocorrências de problemas nos sistemas.
“Os novos trólebus já dispõem de sistema autônomo (a baterias), que permitem ao veículo continuar a operação sem interrupção do serviço mesmo que haja um problema de rede ou de fornecimento de energia elétrica”, ressalta Berkes.Reportagem de 2014 –
“A operação de trólebus no Corredor Metropolitano ABD em 2013 possibilitou que deixassem de ser queimados 4,31 milhões de litros de óleo diesel.
O levantamento foi feito pela empresa operadora do sistema, Metra, a pedido da reportagem, e revela a importância da manutenção e expansão da frota de ônibus elétricos.
De acordo com planilhas internacionais seguidas pela ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, cada litro queimado do diesel S-50, hoje usado pelos ônibus convencionais, libera na atmosfera 2,1 quilos de gás carbônico. Com isso, a presença dos trólebus no Corredor possibilitou que no ano passado deixassem de ser emitidas na atmosfera aproximadamente 9 mil de toneladas de CO2, um dos principais causadores de doenças respiratórias e do efeito estufa.
A OMS – Organização Mundial da Saúde divulgou em 24 de março de 2014 um novo relatório sobre o efeito da poluição do ar na saúde das pessoas. De acordo com o organismo internacional, por ano as más condições do ar são responsáveis pela morte de 7 milhões de pessoas.” –
MAIS DE QUATRO MIL MORTES SÓ NA CAPITAL PAULISTA E QUASE 100 MIL MORTES NO ESTADO EM CINCO ANOS:
A poluição mata em média 4 mil pessoas na cidade de São Paulo e 17 mil em todo o Estado. Levando em conta o período entre 2006 e 2011, morreram cerca de 100 mil pessoas no Estado de São Paulo por causa da poluição.
É o que aponta estudo de 83 páginas do Instituto Saúde e Sustentabilidade assinado pelo médico Paulo Nascimento Saldiva, membro do Comitê de Qualidade do Ar da Organização Mundial de Saúde e pesquisador do Departamento de Saúde Ambiental da Universidade de Harvard; Evangelina da M. P. A. de Araujo Vormittag, médica, especialista em Patologia Clínica e Microbiologia, Doutora em Patologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP); Cristina Guimarães Rodrigues, bacharel em Ciências Econômicas e Doutora em Demografia pela Universidade Federal de Minas Gerais e Pós-doutorado pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo; Marina Jorge de Miranda, Geógrafa, Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Doutoranda em Geografia (Geografia Física)na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas daUniversidade de São Paulo (FFLCH/USP); Júlia Affonso Cavalcante, Graduanda do curso de Bacharelado em Gestão Ambiental na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP); Renan Rodrigues da Costa, Graduando no curso de Bacharelado em Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP; Camila Acosta Camargom, graduada em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas na Escola de Comunicações e Artes da USP
“Em relação à mortalidade atribuível a poluição, o Estado de SP possui 17.443 mortes, Região Metropolitana de SP 7.932 e a capital paulistana, 4.655 óbitos. Se considerarmos as mortes atribuíveis no Estado de SP para todos os anos do estudo 2006 a 2011, a partir da publicação do Guia da OMS com os novos padrões a serem seguidos, temos 99.084 mortes, o mesmo que dizer uma cidade de 100 mil habitantes dizimada em seis anos.” – diz a apresentação dos trabalhos.
“Caso todos os ônibus a diesel passassem a usar o etanol, haveria a redução de 4.588 casos de internações hospitalares e 745 casos de mortes por ano, o que equivaleria a uma redução de gastos de US$ 145 milhões por ano (SALDIVA et al., 2010)” – reitera o trabalho em sua página 18.
Os ganhos para a saúde pública seriam ainda maiores se parte desta frota fosse composta por ônibus elétricos com bateria, trólebus e ônibus híbridos.
O estudo mostra também o alto impacto da poluição nos custos da saúde pública. É uma média de 68,5 mil internações relacionadas à poluição, com base nos dados de 2011. A maior parte por causa de doenças cardiovalsculares.
Considerando a distribuição das causas no Estado de São Paulo, a figura 25 mostra que o maior percentual de internações atribuíveis à poluição corresponde a doenças respiratórias em adultos (38%), seguida das doenças cardiovasculares, com 33%. Para todas as outras regiões consideradas, o percentual de internações atribuíveis à poluição foi maior para as doenças respiratórias, exceto para a Baixada Santista e na RMSP, cujo percentual foi maior para as doenças cardiovasculares (36% para ambos). Esses valores refletem, de modo geral, a representatividade das doenças em cada região considerada. , diz o levantamento em sua página 60
Confira o estudo na íntegra aqui:
PROCONVE É IMPORTANTE, MAS NÃO SUFICIENTE, DIZ PAULO SALDIVA:
O médico patologista, professor universitário, pesquisador brasileiro, membro do Comitê de Qualidade do Ar da Organização Mundial de Saúde e pesquisador do Departamento de Saúde Ambiental da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Paulo Saldiva, fez em 2013, uma análise técnica sobre os ganhos da evolução do Proconve, programa que se propõe a diminuir a poluição pelos veículos automotores, do Ministério do Meio Ambiente.
Ele afirmou o programa trouxe diversas vantagens, mas ainda as emissões de material particulado e ozônio continuam por causa da queima deste combustível.
“O Proconve foi eficiente no sentido de reduzir significativamente os níveis dos poluentes atmosféricos na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). No entanto, dois poluentes ainda representam problemas a serem combatidos – material particulado e ozônio. Como veremos a seguir, os últimos conhecimentos científicos demonstram que estes dois poluentes promovem danos à saúde humana em concentrações inferiores às atualmente existentes na RMSP.”
A indústria e os veículos são responsáveis por quase a totalidade das emissões de materiais particulados, mesmo com os avanços do Proconve:
O DIESEL DOS ÔNIBUS NA CAPITAL E GRANDE SÃO PAULO:
Com base em dados da CETESB, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, a ANTP Associação Nacional dos Transportes Públicos, ao elaborar o “Simulador de Emissões de Ônibus Urbanos”, mostrou em junho de 2016, que para a realidade da região metropolitana de São Paulo, o diesel representa ainda grande parcela das emissões de óxido de nitrogênio e de materiais particulados contando o MP 10 e o MP 2,5 advindo do aerossol secundário.
O simulador indica os principais modelos de ônibus disponíveis no mercado com tecnologia alternativa à tração unicamente por óleo diesel, entre os quais estão trólebus, ônibus elétricos a bateria, híbridos, à etanol e à gás natural. As considerações técnicas podem ser conferidas em:
OS CUSTOS DA POLUIÇÃO:
Além do aspecto humano, a poluição deve ser vista sob a ótica financeira. E nesse caso, ela também tem um efeito devastador, como confirmou um estudo do Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas, Universidade Federal de São Paulo, de 2014, assinado pelos professores Simone Georges El Khouri Miraglia e Nelson Gouveia.
Segundo o levantamento, em 29 Regiões Metropolitanas, que registraram 20.050 óbitos relacionados à poluição, o Brasil perde por ano US$ 1,7 bilhão por causa da má qualidade do ar. O dado é apresentado logo na abertura do artigo acadêmico.
Levando em conta que o quilômetro de metrô custa em média R$ 700 milhões e de corredores de ônibus BRT de alta capacidade e velocidade para este tipo de modal custa em torno de R$ 35 milhões, vale muito mais a pena do ponto de vista financeiro investir em mobilidade urbana, o que poderia reduzir e muito este prejuízo do Brasil com a poluição.
As regiões analisadas foram: Regiões Metropolitanas (RM) de Agreste, Aracaju, Baixada Santista, Belém, Belo Horizonte, Campina Grande, Campinas, Carbonífera, Cariri, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, Grande São Luis, João Pessoa, Londrina, Macapá, Maceió, Maringá, Mato Grosso, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Sudeste Maranhense, Vale do Itajaí e Vitória.
De acordo com o levantamento, entre os gêneros, os maiores custos são com mulheres de idades entre 30 e 59 anos e os homens com mais de 80 anos.
Os pesquisadores enfatizam a necessidade de investimentos em transportes públicos.
“Políticas públicas empreendidas no sentido de melhorar a qualidade do ar, como, por exemplo, o uso de combustíveis mais limpos, a melhoria dos sistemas de transporte públicos, entre outras, trarão benefícios à população, que sofrerá menos efeitos em sua saúde, resultando em menores taxas de internações hospitalares e menores índices de mortalidade, além de poupar os recursos financeiros destinados à saúde. Adicionalmente, é importante haver um equilíbrio em termos de justiça ambiental de forma que exposições ambientais não acarretem padrões desiguais de saúde. Uma possível forma de avaliar as injustiças ambientais em padrões de saúde é através de indicadores de eficiência de serviços de saúde no Brasil, analisando-os frente a parâmetros ambientais. Ressalta-se que a redução na emissão de poluentes atmosféricos, além do benefício imediato na saúde da população, traz também benefícios de longo prazo por meio da mitigação das mudanças climáticas que também estão associadas à poluição atmosférica.”
O estudo/artigo na íntegra você confere aqui:
Em janeiro de 2015, um estudo divulgado pela Universidade de Stanford, mostrou que os custos causados pela emissão de gases do efeito estufa chegam a US$ 220 por tonelada. O número é quase seis vezes maior que o previsto pelo governo americano, que estimava em US$ 37 o valor da tonelada de gás carbônico liberada na atmosfera.
Sobre o dado, em entrevista ao jornal O Globo, o especialista em finanças ambientais e economia de baixo carbono, Luiz Serrano, afirma que o poder público e a iniciativa privada, devem considerar os custos da poluição e das mudanças climáticas nos investimentos.
“No mundo empresarial, as mudanças climáticas devem ser incorporadas na avaliação de riscos e oportunidades de um negócio — ressalta Serrano, gerente de negócios da empresa de soluções sustentáveis KeyAssociados. — No ambiente público, mais ainda, pois pode impactar na geração de dívidas, nos projetos nacionais e em temas relevantes para a população.” –http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/custo-da-poluicao-seis-vezes-maior-do-que-estimado-pelos-eua-diz-estudo-15034864
No Seminário Internacional sobre Desestímulo ao Uso do Automóvel, realizado em setembro de 2014, pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente, o professore Nelson Gouveia, falou sobre a evolução da poluição nas cidades e das pesquisas sobre o tema
TRANSPORTE INDIVIDUAL É RESPONSÁVEL POR 85% DOS CUSTOS DOS DESLOCAMENTOS, MAS É O TRANSPORTE PÚBLICO QUE LEVA MAIS PESSOAS:
A ANTP – Associação Nacional dos Transportes Públicos divulgou em 2014, relatório do SIM – Sistema de Mobilidade Urbana da ANTP referentes aos dados de 2012.
O trabalho foi bem extenso e levantou os dados referentes aos sistemas de transportes de cidades com 60 mil habitantes ou mais, o que representa 438 municípios que somam 119 milhões de habitantes – 61% da população brasileira.
De acordo com o levantamento, contanto os próprios deslocamentos e as externalidades (poluição, acidentes de trânsito, uso de estrutura viária, etc), a mobilidade para 61% da população em todo o País custa R$ 205,8 bilhões. Os transportes individuais motorizados consomem R$ 174 milhões, o equivalente a 85% de todos os custos.
Mesmo pesando muito no bolso, os transportes individuais não atendem à maioria da população. De acordo com o levantamento, “as viagens a pé e em bicicleta foram a maioria (25,1 bilhões = 40% do total), seguidas pelo transporte individual motorizado – carros e motocicletas (19,4 bilhões = 31% do total) – e pelo transporte coletivo (18,2 bilhões = 29% do total), sendo que o transporte coletivo é responsável por percorrer 57,2% das distâncias nas viagens habituais. Os carros são usados apenas em 31% das distâncias.
Ainda segundo o estudo, apesar de representar mais custos e atender a minoria, o transporte individual recebe pelo menos três vezes mais recursos que o transporte coletivo ou para a melhoria dos deslocamentos a pé e por bicicleta, como construção de calçadas melhores e ciclovias realmente seguras.
ÔNIBUS REPRESENTAM A GRANDE MAIORIA DOS DESLOCAMENTOS POR TRANSPORTE PÚBLICO:
Enquanto os carros e motos recebem a maior parte dos estímulos diretos e indiretos, são os ônibus os responsáveis pela maior parte dos deslocamentos em transportes públicos.
Os dados mostram a necessidade de o transporte por ônibus receber prioridade e investimentos para que a maioria da população brasileira seja atendida com mais qualidade.
“O relatório informa que do total das viagens realizadas em transporte coletivo (18,2 bilhões) nas cidades brasileiras com mais de 60 mil habitantes, 70% delas aconteceram em ônibus municipais, 17% em ônibus metropolitanos e 13% em trilhos” – diz a ANTP em nota.
TRANSPORTE PÚBLICO AINDA GASTA MAIS TEMPO DAS PESSOAS:
Os estudos ainda mostram outra complicada realidade. Apesar de realizar mais da metade das distâncias em todo o País, o transporte público, ao não receber prioridade no espaço urbano e nas políticas para a mobilidade, faz com que as pessoas percam mais tempo nos ônibus, trens e metrô.
“Nestes deslocamentos os habitantes das cidades que formam o universo da pesquisa (com mais de 60 mil moradores) gastam, por ano, 22,4 bilhões de horas para deslocar-se. A maior parte do tempo é gasta nos veículos de transporte público (49%), seguido pelas viagens a pé (25%). O usuário de transporte coletivo está sujeito, assim, a tempos médios de viagem superiores – gastam mais tempo, portanto, em seus deslocamentos. Conclusão: o transporte coletivo representa 29% do total das viagens, mas consome 49% do total de tempo na mobilidade.” – dia a ANTP
EXTERNALIDADES E CUSTO DE ENERGIA:
Os carros também podem ser considerados os grandes vilões em relação aos impactos ambientais e o consumo de energia para os deslocamentos. Além disso, o transporte individual tem custos de externalidades bem superiores ao transporte público: seis vezes mais em relação a acidentes de trânsito e quatro vezes mais a respeito da poluição, como detalha nota da ANTP:
“Energia. Na questão ambiental tem-se que os automóveis são os grandes vilões no consumo de energia. Por dia as pessoas que usam transporte individual consomem 75% da energia (72% carros e 3% motos), ao passo que os usuários de transporte coletivo consomem apenas 25%. No ano de 2012 os custos individuais da mobilidade são estimados em R$ 184,3 bilhões – desse montante o transporte individual responde por 79%. Já os custos sociais (arcados pelo poder público) são estimados em R$ 10,3 bilhões por ano. De novo o transporte individual é o maior gastador: 77%. Quando se comparam as despesas individuais por habitante, vemos que elas crescem de R$ 2,53 por dia nas cidades menores para R$ 7,20 por dia nos municípios maiores. Ou seja, quase triplica.
Custos das externalidades. Outro dado importante e ao mesmo tempo assustador: o custo total da emissão de poluentes e dos acidentes de trânsito é de R$ 21,5 bilhões por ano: cerca de R$ 6,3 bilhões referem-se à poluição atmosférica e R$ 15,2 bilhões aos acidentes de trânsito. Nestes indicadores mais uma vez se nota o prejuízo à sociedade causado pelo transporte individual (motorizado): o transporte coletivo responde por um gasto de R$ 2,2 bilhões por ano em acidentes de trânsito, enquanto o transporte individual consome mais de 6 vezes este valor: R$ 13 bilhões. No custo da poluição outra relação desfavorável para a maioria dos habitantes: enquanto o transporte coletivo provoca um custo de R$ 2,3 bilhões /ano, o transporte individual responde por quase o dobro, R$ 4 bilhões.”
Sendo assim, não investir em transporte público, além de ser o continuísmo de uma política que não dá valor às vidas, pode ser considerado do ponto de vista econômico e social uma tremenda falta de inteligência por parte daqueles que estão no poder e só pensam de forma imediatista: no voto de uma sociedade apaixonada por carro, apesar de sofrer por causa dele.
O RELATÓRIO COMPLETO VOCÊ CONFERE AQUI:
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
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