03/09/2016 - Ailton Brasiliense Pires
ANTP
Em 1950 tínhamos 50 milhões de habitantes e 33%, ou 17 milhões deles, residindo nas cidades. No censo de 2010 éramos 190 milhões e 80% vivíamos nas cidades, ou seja, 160 milhões de urbanoides. Pelas previsões recentes seremos 230 milhões de habitantes daqui a 20 anos, dos quais 200 milhões residindo em cidades. Desta forma, 40 milhões de novos habitantes irão conviver em áreas urbanas. Em quais cidades, com qual qualidade de vida? Onde irão morar, trabalhar, encontrar educação, saúde, etc., como irão se deslocar? Quanto precisaremos investir para atender a essas necessidades?
A ANTP vem procurando discutir estas questões desde a muito tempo. Para isso tem organizado congressos, seminários, debates técnicos, estudos, etc. Temos procurado enfatizar que a proposição à sociedade de apenas melhorarmos o transporte público, seja através de trilhos e/ou pneus, é uma condição necessária, mas insuficiente. As demandas para melhoria dos transportes públicos exigem condições de curto e médio prazo conhecidas. O uso extensivo de veículos particulares tem mostrado que o aumento dos congestionamentos, poluição, acidentes, decorrem da busca de soluções individuais. Temos um enorme passivo quanto ao aumento de qualidade e quantidade de transportes públicos. Mas, olhando para o futuro imediato, num horizonte de 20 anos, se apenas incrementarmos o transporte público de qualidade e quantidade estaremos consolidando o desenho urbano que orientou a distribuição de moradias, serviços e comércio, entre outros.
Em 1950 São Paulo, capital, tinha uma população de 2,5 milhões de habitantes e 95% dos deslocamentos eram feitos por transportes públicos. Naquela época a cidade era muito compacta por conta da disponibilidade da oferta de linhas de trens, bondes e ônibus. Ou seja, as moradias, os serviços, o comércio e as indústrias procuravam localizar-se nas proximidades dos eixos de transportes públicos. Eles foram os ordenadores urbanos da vida citadina. Desta forma, as distâncias a serem percorridas nas viagens de todas as naturezas eram curtas e, consequentemente, com tempos e custos baixos. Mas esta lógica deixou de ser praticada e as decorrências não foram positivas. Algumas das consequências de tudo isso foram: as distâncias aumentaram; as frotas de ônibus precisaram ser acrescidas; as velocidades de deslocamento foram reduzidas, também pelas periferias disporem de um sistema viário mais acanhado; e os custos subiram de tal forma que hoje as tarifas de transporte público são as mais altas da história de cada cidade.
Mais ainda, continuamos atraindo empregos de serviços, comércio, ensino, saúde para as áreas centrais, ao mesmo tempo que insistimos em alocar as moradias, chamadas populares, nas periferias. Olhando para o futuro, depois da péssima experiência de ter trocado a ordenação do espaço público pelo transporte individual, além da excessiva especulação imobiliária predatória, chegou a hora de repensarmos o futuro de nossas cidades. De uma vez por todas a expansão das cidades tem que se dar em cima de Planos Diretores, que orientem as cidades para onde crescer, e para onde não crescer.
Devemos aproveitar as disponibilidades financeiras e de conhecimento sobre como reordenar nossos espaços. Os novos 40 milhões de cidadãos deverão morar em cidades médias, que hoje têm populações entre 300 mil e 1 milhão de habitantes. Algumas delas irão duplicar suas populações. Se mantiverem o desenho urbano de ocupação do uso do solo atual irão inchar, e não crescer. Se, por outro lado, pensarem em construir corredores de transporte público, de trilhos e pneus, onde cada um deles couber, como ordenadores urbanos, neles teremos um adensamento e diversificação de uso que permitirão atender a um número maior de pessoas por viagem, pelo fato destas serem mais curtas.
Ou seja, seus interesses de emprego, saúde, comércio, educação, serão atendidos em um tempo menor, a um custo menor.
As soluções são conhecidas, temos que envolver o cidadão na discussão, a sociedade civil organizada precisa ser ouvida e comprometida. Hoje sabemos o que fazer, e como fazer; precisamos acreditar e cobrar as decisões corretas.
Ailton Brasiliense Pires – Presidente da ANTP
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