As rodovias por onde trafegam 80% das cargas, passageiros de ônibus e veículos particulares estão em boas condições de trafegabilidade e conforto.
Carta Maior
José Augusto Valente
Hoje (5/11), foram divulgados os resultados da Pesquisa CNT de Rodovias 2015. Consultando o Relatório Gerencial (clique aqui), destacamos, para análise, os itens mais relevantes, que são as condições do pavimento e da sinalização.
A Pesquisa CNT de Rodovias 2015 avaliou 100.763 quilômetros de rodovias pavimentadas por todo o país, entre rodovias federais e estaduais. Desse total, cerca de metade é malha federal e a outra metade é composta pelas malhas estaduais.
A CNT é a única que avalia malhas estaduais e federal, tornando-se um importante instrumento de medição das condições das rodovias.
E o que nos mostra o Relatório Gerencial dessa pesquisa?
a) Velocidade em função do pavimento da pista de rolamento
Este é, sem dúvida, o principal indicador. Afinal, o que se espera do pavimento é oferecer regularidade, suavidade e, portanto, sensação de segurança na condução dos veículos, especialmente dos caminhões.
De acordo com essa pesquisa, 96,1% do pavimento pesquisado não obriga à redução de velocidade pelos motoristas, o que representa aproximadamente 96 mil Km das rodovias pesquisadas, e não afetam a regularidade e suavidade da condução dos veículos. No ano passado, o resultado foi idêntico.
b) Pavimento – pista de rolamento
A pesquisa mostra que 75,2% das rodovias brasileiras estão com o pavimento da pista de rolamento em boas condições, 19,9% têm remendos e trincas (contra 77,1% no ano passado) e apenas 4,9% apresentam buracos, afundamentos, ondulações na pista e pavimento totalmente destruído, conforme gráfico abaixo. Ressaltar que o item “Trinca em malha/remendos”, pela definição da CNT, exclui a existência de buracos. Se juntarmos os 77,1%, perfeito e desgastado, com 19,1%, com remendos, teremos 96,2%, que é exatamente o percentual de trechos rodoviários que oferecem uma condução suave, regular e segura, mencionado no item anterior.
c) Pavimento dos acostamentos
Segundo a pesquisa, 83,9% dos acostamentos existentes nas estradas brasileiras foram considerados ótimos por estarem pavimentados e perfeitos. No ano passado, 82,3% tiveram essa mesma avaliação. Ela mostra, também, que 0,7% dos acostamentos foram considerados perfeitos, ainda que sem pavimentação. Apenas 15,4% não apresentavam condição de uso com segurança, devido a buracos, fissuras, presença de mato e desnível acentuado em relação à rodovia.
d) Sinalização – faixas centrais
Segundo a pesquisa, 62,6% as faixas centrais das rodovias estão com as pinturas visíveis (contra 52,4% no ano passado) e, em condições de separar o tráfego e regulamentar ultrapassagens. Entretanto, outros 40,8% (contra 32% no ano passado) apresentavam faixas com a pintura desgastada e 5,4% inexistente, como aponta o gráfico abaixo. Esse é o item mais desfavorável, entre os relevantes, embora tenha apresentado uma significativa melhora.
e) Sinalização – placas de limites de velocidade
Em 73,6% da extensão de rodovias avaliadas, há a presença de placas de limite de velocidade, conforme gráfico abaixo. Esse item, aliado ao relativo às faixas centrais, é fundamental para aumentar a segurança da condução rodoviária, o que não ocorre como esperado por se tratarem dos itens que mais são violados pelos motoristas, acarretando acidentes que resultam em grande mortalidade e ferimentos graves. Esse resultado foi idêntico ao do ano passado.
f) Sinalização – visibilidade das placas
A pesquisa constatou que 86,7% das placas são visíveis pelos condutores dos veículos, com a inexistência de mato cobrindo as placas e 5% apresentavam algum mato cobrindo, mas não totalmente. Esses é um indicador importante da eficiência da conservação realizada pelo DNIT, pelos governos estaduais e pelas concessionárias. No ano passado, o resultado foi 82,3%. Houve uma significativa melhora neste último ano.
g) Sinalização – legibilidade das placas
De acordo com a CNT, 82,6% das placas estavam totalmente legíveis e em 16,4% se conseguia identificar o pictograma, embora esse elemento já se encontrasse desgastado. Outro indicador importante dos serviços de conservação dos gestores públicos e privados. Esse item piorou. No ano passado, 88,0% das placas estavam totalmente legíveis.
h) Geometria
Não se deve priorizar a avaliação da geometria da via, no mesmo nível do pavimento e da sinalização, uma vez que a referida avaliação está fora das normas adotados pelo DNIT e pelos DERs. Apenas para sintetizar, a CNT defende que absolutamente todas as rodovias devam ser em pista dupla. Como 86,5% das rodovias pesquisadas são pista simples de mão dupla, o resultado final será sempre regular, por conta desse aspecto.
Conclusão
Mais de 2/3 da malha pesquisada é composta de rodovias de regular ou baixo volume de tráfego. Naturalmente, essas rodovias recebem menos recursos regulares para restauração, manutenção e sinalização.
A Pesquisa da CNT não considera o tráfego nas rodovias, não informando os respectivos volumes dessas ligações, o que permitiria estabelecer correlação entre a logística real e a situação da infraestrutura.
Assim a Rodovia Presidente Dutra (Rio-São Paulo), com seus 400 quilômetros e um volume de tráfego diário superior a 500 mil veículos, tem o mesmo peso que qualquer rodovia estadual, com 400 quilômetros e um volume médio diário de 2 mil veículos. Esse é um ponto em que a pesquisa precisa avançar.
Eu avalio que as rodovias por onde trafegam pelo menos uns 80% das cargas, passageiros de ônibus, veículos particulares e motocicletas, estão em boas condições de trafegabilidade e conforto. Afinal essas são as principais rodovias do país. Quase todas operadas por concessionárias.
Essas condições satisfatórias deveriam garantir maior segurança, com redução acelerada de acidentes e mortalidade nas estradas. Entretanto, ao contrário do senso comum, quanto melhores as rodovias, mais perigosas se tornam, por conta do excesso de velocidade, da imprudência sistemática e cultural dos motoristas brasileiros, aliados ao reduzido nível de penalização das infrações na malha rodoviária.
Finalmente, é preciso saber que o critério de avaliação da pesquisa é muito rígido. Uma ligação rodoviária, para ser considerada Ótima, tem que ter nota final maior ou igual a 91. Para ser considerada Boa, nota final, maior ou igual a 81. Se a nota final for 80,5 será considerada como Regular.
Esse rigor é bom para mostrar que a avaliação, feita por equipes especialmente treinadas e que percorrem de fato os 100 mil quilômetros avaliados, é conservadora e valoriza as notas altas e médias.
Assim, essa melhora verificada na comparação entre a pesquisa deste ano e a do ano passado passa a ter maior valor, especialmente, por conta desse rigor na avaliação.
José Augusto Valente – especialista em logística e transportes
A Pesquisa CNT de Rodovias 2015 avaliou 100.763 quilômetros de rodovias pavimentadas por todo o país, entre rodovias federais e estaduais. Desse total, cerca de metade é malha federal e a outra metade é composta pelas malhas estaduais.
A CNT é a única que avalia malhas estaduais e federal, tornando-se um importante instrumento de medição das condições das rodovias.
E o que nos mostra o Relatório Gerencial dessa pesquisa?
a) Velocidade em função do pavimento da pista de rolamento
Este é, sem dúvida, o principal indicador. Afinal, o que se espera do pavimento é oferecer regularidade, suavidade e, portanto, sensação de segurança na condução dos veículos, especialmente dos caminhões.
De acordo com essa pesquisa, 96,1% do pavimento pesquisado não obriga à redução de velocidade pelos motoristas, o que representa aproximadamente 96 mil Km das rodovias pesquisadas, e não afetam a regularidade e suavidade da condução dos veículos. No ano passado, o resultado foi idêntico.
b) Pavimento – pista de rolamento
A pesquisa mostra que 75,2% das rodovias brasileiras estão com o pavimento da pista de rolamento em boas condições, 19,9% têm remendos e trincas (contra 77,1% no ano passado) e apenas 4,9% apresentam buracos, afundamentos, ondulações na pista e pavimento totalmente destruído, conforme gráfico abaixo. Ressaltar que o item “Trinca em malha/remendos”, pela definição da CNT, exclui a existência de buracos. Se juntarmos os 77,1%, perfeito e desgastado, com 19,1%, com remendos, teremos 96,2%, que é exatamente o percentual de trechos rodoviários que oferecem uma condução suave, regular e segura, mencionado no item anterior.
c) Pavimento dos acostamentos
Segundo a pesquisa, 83,9% dos acostamentos existentes nas estradas brasileiras foram considerados ótimos por estarem pavimentados e perfeitos. No ano passado, 82,3% tiveram essa mesma avaliação. Ela mostra, também, que 0,7% dos acostamentos foram considerados perfeitos, ainda que sem pavimentação. Apenas 15,4% não apresentavam condição de uso com segurança, devido a buracos, fissuras, presença de mato e desnível acentuado em relação à rodovia.
d) Sinalização – faixas centrais
Segundo a pesquisa, 62,6% as faixas centrais das rodovias estão com as pinturas visíveis (contra 52,4% no ano passado) e, em condições de separar o tráfego e regulamentar ultrapassagens. Entretanto, outros 40,8% (contra 32% no ano passado) apresentavam faixas com a pintura desgastada e 5,4% inexistente, como aponta o gráfico abaixo. Esse é o item mais desfavorável, entre os relevantes, embora tenha apresentado uma significativa melhora.
e) Sinalização – placas de limites de velocidade
Em 73,6% da extensão de rodovias avaliadas, há a presença de placas de limite de velocidade, conforme gráfico abaixo. Esse item, aliado ao relativo às faixas centrais, é fundamental para aumentar a segurança da condução rodoviária, o que não ocorre como esperado por se tratarem dos itens que mais são violados pelos motoristas, acarretando acidentes que resultam em grande mortalidade e ferimentos graves. Esse resultado foi idêntico ao do ano passado.
f) Sinalização – visibilidade das placas
A pesquisa constatou que 86,7% das placas são visíveis pelos condutores dos veículos, com a inexistência de mato cobrindo as placas e 5% apresentavam algum mato cobrindo, mas não totalmente. Esses é um indicador importante da eficiência da conservação realizada pelo DNIT, pelos governos estaduais e pelas concessionárias. No ano passado, o resultado foi 82,3%. Houve uma significativa melhora neste último ano.
g) Sinalização – legibilidade das placas
De acordo com a CNT, 82,6% das placas estavam totalmente legíveis e em 16,4% se conseguia identificar o pictograma, embora esse elemento já se encontrasse desgastado. Outro indicador importante dos serviços de conservação dos gestores públicos e privados. Esse item piorou. No ano passado, 88,0% das placas estavam totalmente legíveis.
h) Geometria
Não se deve priorizar a avaliação da geometria da via, no mesmo nível do pavimento e da sinalização, uma vez que a referida avaliação está fora das normas adotados pelo DNIT e pelos DERs. Apenas para sintetizar, a CNT defende que absolutamente todas as rodovias devam ser em pista dupla. Como 86,5% das rodovias pesquisadas são pista simples de mão dupla, o resultado final será sempre regular, por conta desse aspecto.
Conclusão
Mais de 2/3 da malha pesquisada é composta de rodovias de regular ou baixo volume de tráfego. Naturalmente, essas rodovias recebem menos recursos regulares para restauração, manutenção e sinalização.
A Pesquisa da CNT não considera o tráfego nas rodovias, não informando os respectivos volumes dessas ligações, o que permitiria estabelecer correlação entre a logística real e a situação da infraestrutura.
Assim a Rodovia Presidente Dutra (Rio-São Paulo), com seus 400 quilômetros e um volume de tráfego diário superior a 500 mil veículos, tem o mesmo peso que qualquer rodovia estadual, com 400 quilômetros e um volume médio diário de 2 mil veículos. Esse é um ponto em que a pesquisa precisa avançar.
Eu avalio que as rodovias por onde trafegam pelo menos uns 80% das cargas, passageiros de ônibus, veículos particulares e motocicletas, estão em boas condições de trafegabilidade e conforto. Afinal essas são as principais rodovias do país. Quase todas operadas por concessionárias.
Essas condições satisfatórias deveriam garantir maior segurança, com redução acelerada de acidentes e mortalidade nas estradas. Entretanto, ao contrário do senso comum, quanto melhores as rodovias, mais perigosas se tornam, por conta do excesso de velocidade, da imprudência sistemática e cultural dos motoristas brasileiros, aliados ao reduzido nível de penalização das infrações na malha rodoviária.
Finalmente, é preciso saber que o critério de avaliação da pesquisa é muito rígido. Uma ligação rodoviária, para ser considerada Ótima, tem que ter nota final maior ou igual a 91. Para ser considerada Boa, nota final, maior ou igual a 81. Se a nota final for 80,5 será considerada como Regular.
Esse rigor é bom para mostrar que a avaliação, feita por equipes especialmente treinadas e que percorrem de fato os 100 mil quilômetros avaliados, é conservadora e valoriza as notas altas e médias.
Assim, essa melhora verificada na comparação entre a pesquisa deste ano e a do ano passado passa a ter maior valor, especialmente, por conta desse rigor na avaliação.
José Augusto Valente – especialista em logística e transportes
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