Evaristo
Almeida*
Recentemente a candidata Marina Silva apresentou o
programa de governo para a campanha presidencial de 2014. A novidade é que a
linha ideológica apresentada pela Marina é mais conservadora que a do candidato
Aécio Neves, do PSDB, vem defendendo. Não porque Aécio não comungue dos mesmos
ideais, mas haveria repulsa imediata do povo para várias questões polêmicas como
autonomia do Banco Central, flexibilização dos direitos trabalhistas, tarifaço em
alguns preços públicos, reforma política, privilegiando o poder econômico,
entre outros.
Vamos trabalhar nesse artigo com quem faz a cabeça
dos economistas da Marina e a matriz ideológica dos que escreveram o programa
econômico da candidata do PSB que é a mesma dos economistas do PSDB. São
economistas neoliberais, com doutoramento nos Estados Unidos ou na Inglaterra.
Vale lembrar que esses dois países passam por crises econômicas profundas, com
desemprego crônico e falta de perspectiva para os trabalhadores.
Depois da crise de 2008, os economistas mais
comprometidos com o desenvolvimento social e econômico, achavam que o
neoliberalismo perderia força; pelo fato dos fundamentos defendidos por essa
escola não serem científicos e sim ideológicos, à luz da crise de proporção gigantesca
nos Estados Unidos e na Europa, que provocaram ao propor a desregulamentação
geral da economia e referenciarem o mercado como um deus. Mas como essa linha
de pensamento defende interesses poderosos de empresas transnacionais, principalmente
do ramo financeiro, dos Estados Unidos, Europa e Japão; é defendido 24 horas
por dia pela mídia mundial comprometida com esses interesses. Interesses esses
que beneficiam apenas 1% da população do mundo. No Brasil não é diferente e a
grande imprensa brasileira é toda neoliberal.
Você nunca verá um economista neoliberal defendendo
distribuição de renda, crescimento econômico, aumento salarial, igualdade
social nem qualquer outro valor humanista e civilizatório.
Os preceitos defendidos pelos neoliberais são
baseados em Adam Smith e David Ricardo, grandes ideólogos ingleses dos séculos
XVIII e XIX, por Thomas Malthus, que não tinha nenhuma consideração pelos
pobres, pois segundo Malthus, não adiantaria fazer nenhuma política econômica
para ajudar classes mais desfavorecidas, pois eles gastariam tudo e
continuariam pobres. Pelo contrário pregava que os pobres morassem nas áreas
mais insalubres, para que a população seja reduzida. E por fim, Hayek e Milton
Friedman, que deram uma nova roupagem ao pensamento conservador no século XXI e
ficaram eufóricos quando Pinochet, ditador do Chile acusado de prisão, tortura
e assassinato contra seus críticos, aplicou a doutrina neoliberal. Esse “aprendizado”
custou dezenas de milhares de vida e transformou o Chile num país destinado a
produzir cobre, frutas e peixes. O resultado foi a pauperização da população
chilena, concentração de renda e desemprego de 1/3 dos trabalhadores.
Mas nada
disso importou para os ideólogos do neoliberalismo, pois a democracia e o
bem-estar social não estão nas preocupações dos apóstolos dessa doutrina.
Foi o economista alemão Georg Friedrich List quem desmascarou
as idéias de Smith e Ricardo, que difundiram a ideologia do livre comércio e
das vantagens comparativas, que beneficiavam a economia inglesa. Para List um
país não pode desenvolver suas indústrias num mercado em que sofre concorrência
de outra economia mais avançada tecnologicamente, como acontecia com a
Inglaterra a partir do século XVIII. Portugal que o diga, pois cometeu o erro
de assinar o tratado de Methuen, que impediu a industrialização desse país por
séculos. Tratado semelhante a esse foi apresentado pelos Estados Unidos, no
final do século XX, com a criação do Acordo de Livre Comércio das Américas -
ALCA, que teria o mesmo efeito nefasto no continente que o acordo assinado por
Portugal em 1703. Acabaria com qualquer iniciativa industrial dos países que
nele adentrassem. Os governos Lula, Chávez e Kirchner não deixaram isso ir em
frente.
Os Estados Unidos maquiaram a Alca na Chamada
Aliança do Pacífico do governo Obama, que prevê livre comércio e já é composta
pelo Chile, Colômbia, México e Peru. Essa aliança transformará os países que
nele entraram em importadores de produtos industrializados estadunidenses e exportadores
de matérias-primas, a preços aviltados para os Estados Unidos. Será o retorno à
condição de colônia que congelará o desenvolvimento e impossibilitará a melhoria
de vida dos seus povos. Está no programa da Marina a adesão a esse tipo de
aliança de livre comércio.
Essa é a receita dos economistas de matriz
neoliberal, subordinação colonial e atraso social.
Eles tratam o grau de desenvolvimento de um país como
se todos fossem iguais e tivessem atingido a mesma produtividade. São contra
políticas desenvolvimentistas como a feita pela Petrobras, em exigir participação
nacional na produção das plataformas e equipamentos para o pré-sal. Vamos
lembrar que esses equipamentos no governo de Fernando Henrique Cardoso eram
construídos em Cingapura, na Coréia e na China. Como resultado, a nossa
indústria naval estava minguando e empregava somente sete mil trabalhadores. Os
empregos ficavam lá fora.
O Brasil, nos governos Lula e Dilma, adotando a
mesma política feita pela Noruega, que desenvolveu uma poderosa indústria naval,
estão exigindo que navios e equipamentos sejam construídos aqui, no nosso país.
Essa política é exitosa, pois a indústria naval brasileira já emprega 80 mil
trabalhadores que estão melhorando de vida com melhores empregos e aumento da
renda.
Anteriormente o curso de engenheiro naval estava
acabando no país, atualmente está em alta. Isso mostra que uma política desenvolvimentista
melhora a qualidade do emprego e da renda da população.
Ao contrário
de política desenvolvimentista, os economistas da Marina, querem uma nova
rodada de abertura econômica, a mesma que causou o grande nível de desemprego
nos anos 1990 no Brasil, feitas nos governos de Collor e Fernando Henrique
Cardoso, que quebraram milhares de empresas e fecharam milhões de empregos.
Outra política econômica, defendida por eles, que ameaça
quebrar o país é o câmbio livre, ou seja, deixar a moeda flutuar livremente ao
sabor do mercado. O livre cambismo não é praticado desde o padrão-ouro, que
vingou até a crise de 1929 e arrasou o mundo. Nos dias atuais seria haraquiri econômico, porque as moedas
deixaram de ter lastro e flutuam ao sabor da especulação financeira.
Os Estados Unidos atualmente tem uma dívida de 20
trilhões de dólares que é rolada via emissão monetária e de títulos públicos,
jogando 80 bilhões de dólares mensalmente no mercado mundial, o que causa
valorização das demais moedas para que os produtos estadunidenses fiquem mais
baratos e possam ser exportados.
Se o Brasil fosse seguir a política livre cambista
preconizada pelos neoliberais da Marina, milhares de empresas teriam fechado,
assim como milhões de empregos, pois o real seria sobrevalorizado mais do que
foi nesse período.
Isso prova que é mais uma grande bobagem defendida
por economistas conservadores e apoiados pela grande imprensa brasileira.
Os adestrados nessa escola são os preferidos para
receber o prêmio Nobel de Economia, o que indica que esse prêmio é dado muito
mais pelos valores ideológicos defendidos do que pela validade da ciência econômica.
No mundo, que me lembre, de economistas progressistas, apenas Amartya Sen, Gunnar
Myrdal, Paul Krugman e Joseph Stiglitz, o receberam. Deixaram de lado economistas
do quilate de Celso Furtado e Raul Prebisch, para falar apenas da Amércia Latina,
que deram grandes contribuições à teoria desenvolvimentista.
O Nobel de Economia é usado politicamente para
favorecer a escola conservadora como foi o Nobel da Paz, dado a Barack Obama
para legitimar as ações bushinianas
do presidente dos Estados Unidos.
A “nova política” preconizada pelos economistas
neoliberais que escreveram o programa econômico da Marina é o repaginamento de
velhos dogmas, que já causaram desemprego e crise econômica no Brasil.
O programa mostra que a candidata desistiu do
Brasil, sim, pois o que está implícito é o retorno à continuação da política
econômica implantada por Fernando Henrique Cardoso entre 1995-2002, que não
melhorou a vida da população brasileira.
O país vive atualmente a melhor condição social e
econômica desde Cabral, com pleno emprego e possibilidade de ascensão social.
Diariamente somos bombardeados, 24 horas do dia, de
que o país passa por grave crise, pela grande imprensa brasileira, o que não é
verdade. Todas as classes sociais melhoraram de vida, como mostra a qualidade
da política econômica implantada no país desde 2003.
Não é preciso que a população brasileira entenda de
economia, mas é só recordar o que foi sua vida nos governos anteriores ao de
Lula e de Dilma, e a que é hoje.
Se nos deixarmos levar pela grande imprensa
brasileira e o terrorismo econômico diariamente jogado nos jornais impressos e
televisivos, poderemos perder todas as conquistas desses 12 anos.
Segundo os existencialistas somos frutos de nossas
escolhas e agora mais do que nunca poderemos seguir a frente construindo uma
nação soberana com desenvolvimento social e econômico ou entrar na lábia dos
neoliberais que tudo está ruim e de fato com as políticas por eles defendidas, a
vida piorar e o Brasil perder a sua autonomia como nação.
São esses dois projetos que estão sendo apresentados
ao nosso povo, um que ele já conhece e está dando certo e o outro mera
abstração e promessas que transformariam para pior a vida de milhões de
brasileiros e brasileiras.
*Evaristo
Almeida - Mestre em Economia Política pela PUC-SP e membro do Instituto Casa
dos Galos de Economia Política, que defende a economia sob a ótica do
trabalhador e dos interesses do povo brasileiro
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