Marco Damiani _ 247 – A gestão do prefeito petista Fernando Haddad, em São Paulo, pode ter atingido nesta sexta-feira 12 um ponto de inflexão. Pela manhã, ele foi aplaudido de pé por cerca de 300 motoristas de táxi que compareceram à sede da Prefeitura para vê-lo assinar o decreto municipal que libera os 440 quilômetros de faixas exclusivas para ônibus para o uso, também, pelos chamados "carros de praça".
Pode parecer pouco, mas não é bem assim. No total, São Paulo tem mais de 60 mil motoristas de táxi, que realizam cerca de 550 mil percursos por dia com passageiros. Em contato direto com o público, na situação privilegiada de estar dentro do carro e ter tempo para dialogar, essa categoria sempre procura ter influência nas eleições disputadas na cidade e no plano nacional. O janismo dos taxistas, na eleição vitoriosa sobre Fernando Henrique, em 1983, é histórico.
- A partir de agora, peço a vocês para que parem de falar mal do prefeito e do secretário dos Transportes (Jilmar Tatto). Eles mostraram que estão do nosso lado, nos ajudando, discursou o antigo e atual líder sindical da categoria, Natalício Bezerra. "A (Luiza) Erundina foi boa para nós, a Marta (Suplicy) foi boa para nós, e agora o Haddad também está sendo, completou ele, referindo-se aos titulares das gestões petistas em São Paulo.
A esta altura, no auditório da Prefeitura lotado por taxistas, surgiram gritos de "Dilma, Dilma" e aplausos para Haddad. Os que estavam ali eram, na maioria, coordenadores de pontos e motoristas de cooperativas. À saída, o prefeito foi cercado para dezenas de fotografias. Ele precisou de uns quinze minutos para sair do auditório.
Até agora, os táxis só podiam usar, em todos os horários, as faixas exclusivas para ônibus no chamado corredor Norte-Sul da cidade. Para as outras, o horário é restrito. A partir do sábado 13, porém, todos os 440 quilômetros de pistas para coletivos também poderão ser compartilhadas pelos táxis a qualquer momento.
Com fôlego renovado, o prefeito aproveitou, na entrevista coletiva que veio a seguir, para rebater os ataques que recebeu, ao longo da semana, de dois dos principais líderes do PSDB paulista. Para Haddad, o sistema de mobilidade urbana que ele vai implantando se apoia no tripé expansão do metrô-faixas para ônibus e táxis-ciclofaixas.
- São iniciativas que se completam em benefício da melhoria na circulação urbana, explicou.
HIGIENÓPOLIS - A oposição a ele discorda. Nesta semana, o senador e candidato a vice-presidente na chapa de Aécio Neves, Aloysio Nunes, se manifestou com dureza no Twitter contra a iniciativa de Haddad de instalar ciclofaixas na capital.
- Delírio autoritário do Haddad, manifestou o senador, atacando duramente a instalação de "ciclofaixas a torto e a direito, revoltando os moradores de Higienópolis".
De fato, no bairro onde moram Aloysio, o ex-presidente Fernando Henrique, o deputado José Aníbal e outros quadros destacados do PSDB, os moradores têm se esmerado em boicotar as ciclofaixas. Para isso, a pista que deveria ser exclusiva para bicicletas continua servindo para estacionamento de veículos, especialmente na emblemática Praça Vilaboim (foto abaixo), no coração do bairro nobre.
Em resposta a pergunta de 247, a respeito da posição dos tucanos, Haddad devolveu na mesma moeda a Aloysio e Matarazzo:
- Eu não poderia esperar outra atitude de representantes de um partido que gastou 2 bilhões de reais para tirar áreas verdes das avenidas marginais em troca de fazer duas pistas de rolamento para veículos, disse o prefeito em referência a iniciativa tomada na gestão do atual candidato a senador José Serra na Prefeitura.
E prosseguiu:
- O PSDB governa para dez por cento da população, por isso é contra ciclofaixas, faixas para ônibus e compartilhamento de táxis. É por isso também que é um partido que está desaparecendo no cenário nacional, está definhando, desferiu.
Havia tempo que Haddad não empregava tanta ênfase numa resposta política. O prefeito está saindo da defensiva dos baixos índices de popularidade até aqui para assumir uma nova postura:
- Minha política é de futuro, o PSDB não tem política para o futuro. É o passado.
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