O fluxo de passageiros nos três grandes aeroportos administrados por empresas privadas – Guarulhos (SP), Brasília (DF) e Campinas (SP) – cresceu no primeiro semestre o dobro da evolução registrada pela estatal Infraero. Com isso, houve mudanças no ranking dos maiores terminais. Enquanto o empreendimento de Guarulhos (SP) continua isolado no topo da lista, o de Brasília já figura como o segundo mais movimentado do país ao superar Congonhas (em São Paulo) e Galeão (no Rio).
Os aeroportos de Guarulhos e Brasília já computavam crescimento natural antes das concessões – que se acelerou após obras de expansão, estratégias dos controladores e pela própria demanda do país. Somando os três aeroportos, o número de passageiros foi 11,7% maior no semestre.
O número é ainda mais alto do que em 2013, quando o crescimento dos três juntos foi de 8,7% contra um ano antes. Já nos 63 aeroportos da Infraero, a variação foi de 5,9% – também se trata de uma evolução contra um ano antes, quando houve leve queda, mas continua sendo um retrato da distância em relação aos projetos privados.
Brasília cresceu 13,3%. “Poucos negócios no país estão crescendo nessa magnitude. É consequência de uma estratégia que está se consolidando”, diz ao Valor Alysson Paolinelli, presidente da Inframérica, concessionária do aeroporto da capital federal. Para ele, três motivos justificam o crescimento.
O primeiro é a expansão da infraestrutura. A empresa investiu R$ 1,2 bilhão para inaugurar dois píeres com 29 pontes de embarque – expandindo a capacidade de 16 milhões para 25 milhões de passageiros.
O segundo fator é a posição geográfica de Brasília, no centro do país, que facilita a atração de voos de conexão. O terceiro atrativo é o custo do combustível. O Distrito Federal reduziu de 25% para 12% no ano passado a alíquota do ICMS sobre o querosene de aviação, atraindo voos de conexão. No Estado de São Paulo, por exemplo, o imposto é mais alto: 25%.
Essas razões levaram o aeroporto a ter 13% mais passageiros em conexão. “Com certeza tem a ver com combustível e investimento em infraestrutura”, confirma o presidente da Gol, Paulo Kakinoff.
A companhia aérea transformou a capital federal em um “hub”. “Para o passageiro, o mais importante é o terminal. Mas para a aérea, espaço de pátio e pista representam eficiência e pontualidade”, diz.
Além disso, a área internacional, que movimentou 13% mais pessoas contra um ano antes (com voos de Air France e Aerolineas Argentinas), fez a empresa antecipar investimentos, conta Paolinelli. A expansão internacional, planejada originalmente para ser concluída em 2020, será terminada em 2016.
Em Guarulhos, o movimento de passageiros cresceu 12,9% no primeiro semestre. O aeroporto tem mais que o dobro de passageiros do segundo colocado, Brasília. A GRU Airport buscou atrair aeronaves de maior porte e mais companhias internacionais.
Outro aeroporto em concessão, o de Campinas, teve crescimento de 4,7% no número de passageiros. A evolução é menor do que na rede da Infraero principalmente pelo fato de o novo terminal – originalmente previsto para antes da Copa do Mundo – ainda não estar pronto.
“Começaremos em outubro a processar passageiros no novo terminal. Ficará totalmente operacional até dezembro”, diz Luiz Alberto Küster, presidente da Aeroportos Brasil Viracopos. Mesmo assim, Küster defende que o trabalho da concessionária trouxe crescimento. “Fizemos uma série de investimentos. Se não melhorássemos a operação, é possível que não tivéssemos 4,7% mais passageiros”, diz.
O secretário executivo da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Guilherme Ramalho, diz que os leilões de aeroportos impulsionam o crescimento do setor. “Eu não tenho dúvida que contribuiu, porque o regime de concessões adicionou o fator da concorrência.
Os aeroportos estão competindo por novos voos”, diz ele, que ainda lembra da demanda natural do setor, em expansão neste ano. “Houve aumento de passageiros, com aeronaves mais cheias”, diz.
Para ele, a Infraero terá responsabilidade de buscar crescimento no novo cenário. “A Infraero vai ter que, cada vez mais, se dedicar a ser uma empresa que compete para atrair mais voos internacionais e melhorar seus serviços”. Demanda haverá: até 2020, a previsão é que o Brasil dobre o número de passageiros para 200 milhões.
Para a estatal ficar mais robusta depois de “perder” o controle de alguns de seus principais aeroportos para empresas privadas, o governo busca hoje um sócio estrangeiro à subsidiária Infraero Serviços. Conforme já noticiou o Valor, empresas como a alemã Fraport manifestaram interesse.
Hoje, o governo não dá pistas de quando fará novas concessões. Em vez disso, se dedica à aviação regional. Há 100 projetos de engenharia sendo elaborados e a expectativa é ter licitações de obras começando neste ano. “Com os projetos, vamos entrar em linha de produção”, diz.
Fonte: Valor Econômico, Por Fábio Pupo. Colaborou João José Oliveira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário