O crescimento vertiginoso das companhias aéreas das ”petromonarquias” do Golfo – Emirates, Qatar e Etihad – aumenta a inquietação das grandes europeias.
Empresas como Lufthansa, Swiss e Air France reagem pedindo aos governos para investigar as condições de concorrência.
Com seu mercados domésticos somados de apenas 6 milhões de habitantes, as três companhias do Golfo expandem agressivamente suas ligações para todas as regiões do mundo, usando seus aeroportos no meio do deserto como ‘hubs’ (centros de conexões de voos de diferentes regiões).
Refletindo a mudança na aviação global, em apenas uma década a fatia do tráfego internacional feito por companhias do Oriente Médio, e basicamente do Golfo, cresceu de 4% para 9%.
Enquanto elas oferecem serviços de luxo para passageiros de primeira classe ou executiva, como limusine para buscá-los em casa e levá-los para o aeroporto, as condições gerais da oferta europeia não cessam de se deteriorar.
A Emirates tornou-se, no ano passado, líder mundial do transporte aéreo em termos de assentos oferecidos por quilômetro percorrido.
Uma ilustração da ambição da companhia é a carteira de 385 novos aparelhos encomendados, 50 deles Airbus A380, o maior avião do mundo. É mais do que todas as outras grandes internacionais somadas.
O aeroporto de Dubai está prestes a se tornar o mais movimentado do mundo para voos internacionais, segundo o Conselho Internacional de Aeroportos.
A estratégia da Etihad, de Abu Dhabi, inquieta as rivais europeias cada vez mais. A empresa já tem participação no capital de pequenas companhias europeias.
O objetivo é buscar passageiros nos aeroportos secundários da Europa para encher seus aviões com destino a Abu Dhabi e daí para o resto do mundo.
Lufthansa, Swiss e Air France reclamam junto aos governos europeus que o futuro da aviação comercial e sua competitividade estão em jogo.
Alegam que os concorrentes do Golfo têm vantagens estatais enormes que lhes permitem crescer rapidamente.
“Nossa empresa é privada, enquanto as companhias do Golfo são quase estatais, com condições radicalmente diferentes das europeias”, repete Medhi Guenin, porta-voz da Swiss. “Elas têm vantagens fiscais, encargos sociais reduzidos ao mínimo, possibilidade de decolar e aterrissar a qualquer hora do dia ou da noite (na Europa os aeroportos fecham à noite)”, afirma Guenin.
As companhias europeias estimam que, nessas condições, as companhias do Golfo podem se permitir voar quase vazios para várias destinações e praticar preços imbatíveis, desafiando qualquer concorrência e deslocando cada vez mais o tráfego para seus ‘hubs’ no Oriente Médio.
Outra reclamação é de que Emirates ou Etihad paga barato pelo preço do combustível. É uma vantagem enorme quando se considera o peso desse item no custo do transporte aéreo – em torno de 40% dos gastos totais, dependendo da companhia.
“Pagamos o carburante ao preço do mercado”, retruca Akbar al Baker, presidente-executivo da Qatar Airways, sem convencer a concorrência.
Executivos da região insistem que as companhias europeias não conseguem demonstrar que as companhias do Golfo recebem subvenções.
E chegam a lembrar que quem recebeu muito dinheiro de governos foi, por exemplo, a então Swissair e outras companhias no velho continente, para evitar a quebra.
O governo suíço começa a investigar as condições de concorrência, muito discretamente, porque Emirates, Qatar e Etihad fazem a alegria da administração dos aeroportos, com as ligações que oferecem e as taxas que pagam localmente.
Por sua vez, a Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia (UE), abriu na semana passada uma investigação sobre a fatia em mãos de investidores estrangeiros de algumas pequenas companhias.
Isso foi motivado por críticas sobre ‘competição desleal’ por companhias do Golfo, feitas por Christophe Franz, presidente de Lufthansa.
O exame da UE visa essencialmente a Etihad, que já detém fatia minoritária no capital da alemã Air Berlim, da irlandesa Aer Lingus, da suíça Darwin (transformada em Etihad Regional/Darwin), além da indiana Jet Airways, da Virgin Australia e outras.
O movimento de autoridades europeias coincidiu com a sinalização da Etihad de que poderia aumentar sua fatia na Air Berlim para 49,9% do capital.
É o máximo permitido pela legislação europeia. Mas a suspeita é de que o “controle efetivo” ficaria mesmo nas mãos das ”petromonarquias” do Golfo. “Air Berlim nos deu acesso à Alemanha”, diz o presidente e CEO da companhia de Abu Dhabi, James Hogan, já contente em todo caso com os 29% que a empresa tem hoje na alemã.
Etihad é a mais jovem das aéreas do Golfo. Foi fundada em 2003, 18 anos depois da Emirates e nove após a Qatar, e tem pressa para aumentar sua presença global. E não esconde o plano de expandir sua presença na Europa.
Na semana passada, publicou na primeira página do jornal “Tribune de Genève” um anúncio publicitário oferecendo voos pela metade do preço entre Genebra, ou Zurique, e várias cidades europeias, através da Etihad Regional/Darwin. Isso desespera a Swiss, que vê risco de perder tambem fatias de mercado na ponte aérea Genebra-Zurique.
A grande expectativa no mercado na Europa é se a companhia de Abu Dhabi vai fazer uma oferta e se tornar o maior investidor na Alitalia, companhia que já evitou duas vezes a falência em cinco anos.
A verificação de contas da empresa italiana já foi feita. Uma dificuldade, porém, é que Etihad quer reduzir bastante o número de 12 mil funcionários da empresa. E essa tentativa não deu certo no passado diante da reação dos sindicatos.
Ao mesmo tempo em que inquietam os concorrentes, as três companhias do Golfo fazem a alegria dos construtores Airbus e Boeing.
Emirates, Etihad e Qatar Airways encomendaram nada menos que 393 novos aparelhos comerciais somente no Salão Aeronáutico de Dubai, em novembro. Somente no primeiro dia, o salão registrou recorde de US$ 192 bilhões de encomendas.
Fonte: Valor Econômico, Por Assis Moreira
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