segunda-feira, 27 de abril de 2015

Pesquisa da USP mostra benefícios à saúde pelos transportes públicos e reorganização urbana

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Ônibus na região metropolitana de São Paulo. Novo estudo da USP mostra a relação entre saúde e transporte público. Pesquisa mostra que o ideal são investimentos em transporte coletivo somados a uma reorganização urbana para que as pessoas não precisem fazer longas viagens para chegar aos seus destinos. Foto: Adamo Bazani.
Planejamento urbano e transporte coletivo trazem bons impactos à saúde, diz nova pesquisa da USP
Caminhar ou pedalar até o transporte público pode ser tão benéfico quanto ir a academia
Texto: ADAMO BAZANI – CBN
Com informações Agência USP
Imagine gastar em torno de R$ 7,00 por dia para fazer academia.
Não, não é nenhuma promoção ou lançamento de novo programa de atividades físicas.
É o que indica uma nova pesquisa da USP – Universidade de São Paulo sobre saúde de quem vive na região metropolitana.
Andar a pé ou de bicicleta até o transporte coletivo todos os dias para trabalhar ou estudar pode gerar um nível de atividade física semelhante a frequência de exercícios leves numa academia.
Hoje um dos grandes problemas nas cidades, ligados à dependência do uso do carro ou moto, é o sedentarismo que pode levar a sérios problemas como no coração, no metabolismo, perda de massa muscular, de consistência óssea, obesidade, diabete e colesterol.
Os pesquisadores Thiago Hérick de Sá, Carlos Augusto Monteiro e Diana Parra, do Nupens – Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, da USP, avaliaram qual o impacto na saúde das pessoas com uma mudança no perfil dos deslocamentos municipais e metropolitanos e de um planejamento urbano mais adequado, com polos de geração de emprego e renda mais próximos das casas das pessoas e melhor infraestrutura para bicicletas e transporte coletivo. O tempo gasto nos deslocamentos também foi avaliado e relacionado à saúde e bem estar.
Foram usados dados da mais recente pesquisa de origem e destino do Metrô de São Paulo, com análise da demanda de pessoas com idades entre 18 e 60 anos na região metropolitana.
O grupo dividiu as viagens em dois momentos: de forma ativa, que representa os deslocamentos a pé e de bicicleta até o transporte público, e a forma não ativa, sentado no carro ou sentado e em pé no ônibus, trem ou metrô.
Os estudiosos então desenharam três cenários diferentes alterando os tempos de viagens e os modais escolhidos.
1º) Troca em viagens curtas (até um quilômetro) de carro ou transporte público por caminhada: os ganhos de saúde individual seriam grandes, mas do ponto de vista de saúde global da população, seriam limitados. Por habitante, o tempo diário de deslocamento na região metropolitana de São Paulo é de 86,4 minutos, dos quais 19,4 minutos de forma ativa e 67 minutos inativos. Se a troca fosse feita, este tempo iria para 86,2 minutos, sendo 19,6 ativos e 66,4 inativos.
2º) Troca de meio motorizado individual (carro e moto) por transporte público: há um ganho e uma perda. O ganho é que as pessoas se movimentam mais, melhorando a saúde. Somente de transporte individual, gastariam 86,4 minutos de forma inativa. Com o transporte público, o deslocamento ativo, ou seja, a pé ou de bicicleta, é de 19,6 minutos – este é o ganho. A perda é o tempo total de viagem, que subiria dos atuais 86,4 minutos para 100,4 minutos. O estudo mostra assim, a necessidade de investimentos em estruturas como corredores de ônibus e vias férreas para a diminuição do tempo de viagem no transporte coletivo.
3º) Mescla dos cenários 1 e 2, com deslocamentos a pé e de bicicleta com o transporte coletivo, mas com um reordenamento urbano da região metropolitana, reduzindo a distância entre as casas das pessoas e os locais de trabalho e estudo. Neste terceiro cenário, a metade das viagens atuais seria reduzida para deslocamentos curtos feitos apenas de transporte coletivo. O tempo de deslocamento cairia dos atuais 86,4 minutos para 52,9, sendo 26,2 minutos de forma ativa: caminhando ou pedalando.
Assim, a pesquisa mostra que a dependência do carro, pela falta de oferta de transporte público adequado ou por hábito, tem agravado a situação da saúde da população. Apenas a troca do carro pelo transporte público já traz alguns ganhos porque o indivíduo diminui o sedentarismo. Mas não é suficiente ainda para resultados significativos já que o transporte público não recebe ainda o tratamento ideal no espaço urbano, com poucas linhas de metrô e trem e ônibus ainda com pouca prioridade na maior parte das vias. O ideal, revela a pesquisa, é uma mudança que exigiria maior prazo e planejamento: redes de transporte coletivo com mais investimentos e polos educacionais e de geração de emprego e renda não tão distantes das áreas residências, evitando grandes perdas de tempo nos deslocamentos.

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