terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Eles querem fazer o aeroporto virar shopping de luxo


Foto: Infraero
Todos os dias, centenas de japoneses pegam um avião em direção ao aeroporto Incheon International, em Seoul, na Coreia do Sul. Depois de uma hora e meia de viagem, poucos deles deixam o aeroporto. A maioria permanece nos terminais, fazendo compras. Voltam no mesmo dia com sacolas cheias de cosméticos, roupas e sapatos de marcas de luxo, eletrônicos e bebidas.
“Quem sabe, um dia, Guarulhos será tão atraente que os argentinos virão aqui fazer compras?”, brinca Antonio Miguel Marques, presidente da GRU Airport, empresa formada pelo consórcio Invepar-ACSA, que ganhou a concessão do aeroporto de Guarulhos, também chamado de Cumbica, o maior do País.
Ex-presidente da Camargo Corrêa Cimentos (atual Intercement) e da Camargo Corrêa Construções, Marques assumiu a presidência da empresa que agora administra o aeroporto em pleno feriado prolongado de Proclamação da República, quando o movimento de passageiros saltou de 70 mil para 104 mil ao dia.
Com experiência em construção civil, sua missão é tocar as obras de reforma e ampliação, além de transformar o perfil do aeroporto, aproximando-o do que são grandes terminais internacionais. Na prática, fazer com que se torne quase shopping center. “O desconforto que há hoje é físico, não há milagre. Precisamos de mais espaço”, diz Marques.
Para as obras de ampliação, a GRU Airport recebeu financiamento do BNDES de R$ 1,2 bilhão. Atualmente, há 46 “fingers” (onde os aviões embarcam e desembarcam passageiro) em Guarulhos. O projeto é ter mais 44 até a Olimpíada de 2016.
Lojas
Hoje, segundo ele, 60% da receita do aeroporto vem das tarifas de embarque e só 40% do aluguel de lojas. “No decorrer deste ano, vamos inverter isso. Até 2014, queremos que 70% dessa receita venha de fontes comerciais”, diz Marques.
A ideia é expandir a aérea disponível para lojas e restaurantes no aeroporto. Hoje, são 16 mil metros quadrados, não totalmente ocupados (há 158 lojas). A meta é aumentar essa área em 50% para mais de 250 lojas. “Há espaços usados para atividades operacionais que podem virar lojas. Além disso, haverá um novo terminal”, diz o executivo. Para auxiliá-lo nessa tarefa, ele chamou Fernando Sellos, ex-diretor comercial do grupo de shopping centers Iguatemi.
Nas quase três décadas em que esteve sob administração da Infraero, Guarulhos teve um outro modelo de gestão. Por ser autarquia do governo federal, tudo era licitado. Quando havia espaço para mais uma loja, fazia-se uma licitação e ganhava a empresa que pudesse pagar o maior aluguel.
Por esse sistema, as empresas já existentes no aeroporto levavam vantagem: como já tinham estrutura montada (de cozinha e de limpeza, por exemplo), podiam economizar nesse quesito e oferecer um aluguel mais alto.
Agora, o que interessa, explica Sellos, não é mais o aluguel alto, e sim montar um mix de lojas variadas. “Vamos readequar a oferta de lojas de acordo com os perfis de consumo”, explica o diretor. O novo Terminal 3, que está sendo construído, permitirá o fluxo de aviões de maior porte, e será exclusivo para viagens internacionais. Nele, as lojas serão mais luxuosas. “Queremos atrair grandes marcas”, diz. Haverá também um hotel interno com padrão cinco estrelas.
A operadora será definida até março. O atual Terminal 2 será misto, para viagens domésticas e internacionais mais curtas. Seu conjunto de lojas terá um pouco de tudo: algumas grifes, lojas de serviços e cafeterias. No Terminal 1, que será só doméstico, as lojas serão mais populares e haverá mais serviços, como bancos e restaurantes. As obras estão sendo tocadas e a previsão é que até a Copa de 2014 tudo esteja pronto. As redes de restaurantes Bob”s e a Temakeria Makis Place já fecharam contratos para abrir lojas no aeroporto.
Haverá lojas tanto na área depois do controle da Polícia Federal quanto na que é acessível para quem não vai embarcar. “Fizemos uma pesquisa e descobrimos que, nos Estados Unidos e na Europa, cada passageiro é levado ao aeroporto por um acompanhante. Aqui, são quatro pessoas por passageiro”, diz Marques. É esse público que ele quer aproveitar com as lojas que ficam do lado de fora da área de embarque.
“Explorar a parte comercial é a melhor maneira de se conseguir receitas em um aeroporto privado”, diz Marlon Shigueru Ieiri, sócio da FHCunha Advogados, que assessorou um dos consórcios que participou da concorrência do aeroporto de Brasília.
“As tarifas são reguladas pelo governo e não é bom depender delas. A Infraero dependia porque seu perfil não é o de uma empresa comercial, mas sim o de uma gestora da parte aérea.”
Fonte: O Estado de S. Paulo, Por Lílian Cunha

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