Evaristo Almeida*
A cidade de São Paulo tem quase 12 milhões de
pessoas, o equivalente a 5,5% dos habitantes do Brasil.
Com essa concentração populacional o Metrô deveria
ser o principal meio de transporte motorizado na cidade.
Mas, pela rede pífia de Metrô que a cidade de São
Paulo possui apenas 75,5 km, totalmente localizada dentro dos limites do
município, os ônibus municipais é que fazem o serviço que deveria estar a cargo
do Metrô.
O metrô é um modal estrutural de alta capacidade,
que deveria estar transportando a maior parte dos passageiros da Capital.
Nos últimos 21 anos foram construídos apenas 32,1
quilômetros de metrô em São Paulo, o equivalente a 1,52 km ao ano. Muito pouco,
a cidade deveria ter pelo menos 300 quilômetros.
Na zona Leste onde mora cerca de 3,5 milhões de
pessoas, o transporte é um caos. É uma região populosa com poucos
empregos. Todo dia há um grande
deslocamento pendular de pessoas que se dirigem ao centro da cidade,
sobrecarregando todos os modais existentes, a linha 3 – Vermelha do Metrô, as
linhas 11- Coral e 12 – Safira da CPTM e os principais eixos rodoviários.
A região compreendida pelas subprefeituras de Vila
Prudente, Sapopemba, São Mateus, Cidade Tiradentes, Itaquera, Guainases e
Aricanduva, tem uma população aproximada de 2,3 milhões de habitantes. Se
juntarmos as cidades próximas, como São Caetano, Santo André e Mauá essa
população salta para 3,550 milhões.
Com a chegada da linha 2 - Verde do Metrô na Vila
Prudente, todos aguardavam que essa linha seguisse em frente, após o Oratório e
chegasse até Cidade Tiradentes.
Por parte da Prefeitura havia um projeto de ligação
do Parque D. Pedro II até a Cidade Tiradentes.
O projeto foi para um corredor com 32 km de
extensão, dos quais nove elevados, seis terminais, várias estações de
transferência e com capacidade para transportar 350 mil passageiros por dia; a
mesma capacidade um monotrilho.
Esse que seria o maior corredor da cidade,
chegaria em elevado até a Vila Prudente,
com um ramal para Sacomã; essa parte do projeto foi concluída e está
funcionando, sobre a Avenida do Estado e depois seguiria pela Avenida Professor Luiz de Anhaia Mello, Avenida
Sapopemba, Avenida Ragueb chohfi, Estrada do Iguatemi e Cidade Tiradentes.
Esse corredor reduziria pela metade o tempo de
viagem de 140 minutos para 70 minutos.
A obra previa ainda uma extensa intervenção urbana
desde o Parque D. Pedro II até a Cidade Tiradentes, requalificando e melhorando
o entorno do corredor.
O custo atualizado pela IGPM do Corredor Parque Dom
Pedro II à Cidade Tiradentes seria de R$ 2,2 bilhões.
O governo do Estado anunciou em 2009 que a linha 2 –
Verde não iria seguir em frente e sim fazer uma curva em direção a Estação da
Penha, na linha 3 – Vermelha.
Como solução para a população da Cidade Tiradentes, foi
apresentado um novo modal de transporte o monotrilho. No Brasil a única experiência
com monotrilho foi em Poços de Caldas, uma linha para fins turísticos que não
vingou.
E anunciaram com tanta ênfase que prometeram
entregar o trecho Vila Prudente – Oratório até 2010, Oratório – São Mateus no
segundo semestre de 2011 e finalmente chegar a Cidade Tiradentes no segundo
semestre de 2012, com 24,5 quilômetros de vias, 17 estações, dois pátios e 54
trens.
Esse anúncio pegou todo mundo de surpresa, afinal o
que era monotrilho?
Monotrilho é um modal de média capacidade, sou seja,
transporta no máximo 20 mil passageiros por hora sentido, que se locomove num
trilho único, na verdade uma viga de concreto que fica a 15 metros do chão. O
carro do monotrilho é sustentado e equilibrado sobre pneus.
Os movimentos sociais argumentaram com o governo
estadual que esse modal não era o adequado para a região que apresenta uma alta
demanda por transporte público e necessitava de um sistema de alta capacidade,
ou seja, capaz de transportar 80 mil passageiros por hora sentido.
Nas audiências públicas que foram realizadas na
região, os movimentos sociais disseram que o ideal era o governo estadual levar
o Metrô até a Cidade Tiradentes, ou pelo menos avançar até São Mateus com esse
modal.
Somente o Metrô teria capacidade de atender com
segurança, qualidade e conforto a demanda que naquela altura já passava dos 40
mil passageiros por hora sentido.
Outra constatação dos movimentos sociais era que o
modal não apresentava segurança para os passageiros e em vários países o
monotrilho tinha sido abandonado, como em Sidney, na Austrália, ou são
fracassos como em Dubai, que transporta menos de cinco mil usuários por dia.
O governo estadual propôs então criar um novo modal
o monotrilho de alta capacidade que não existe em lugar nenhum, com capacidade
para transportar 48 mil passageiros por hora sentido ou 500 mil diariamente. O
argumento era que o sistema seria mais rápido de fazer e mais barato do que o
Metrô.
O orçamento inicial era que o monotrilho iria custar
R$ 2,3 bilhões ou R$ 100 milhões o quilômetro, mas na primeira licitação deu
vazia, nenhuma empresa se interessou.
O governo estadual refez o edital, aumentou o valor
para R$ 2,9 bilhões e tirou as estações do projeto, que foram licitadas
separadamente.
Como a Estação da Vila Prudente da linha 2 - Verde
Metrô estará sobrecarregada com a ligação com Guarulhos, o projeto do
monotrilho foi estendido até a Estação Ipiranga da linha 10 – Turquesa da CPTM.
Atualmente o projeto do monotrilho está orçado em R$
7,1 bilhões, segundo dados divulgados pelo governo, ou R$ 4,8 bilhões acima do
previsto inicialmente.
O contrato foi assinado em 2010, com previsão de
chegar a São Mateus em 2014 e na Cidade Tiradentes em 2016.
Estamos em novembro de 2015 e por enquanto somente
38,9% das obras foram feitas, segundo dados do governo estadual, com um pequeno
trecho de 2,9 quilômetros funcionando parcialmente, entre Vila Prudente e Oratório,
transportando 12 mil passageiros diariamente.
O monotrilho está em baixa no Brasil, várias cidades
como Manaus e Niterói que pleitearam a construção do modal, desistiram por
causa do custo e da complexidade operacional.
Outro que se colocou contra o sistema foi o
secretário Dario Rais Lopes, em oitiva na Assembleia Legislativa do Estado de
São Paulo, no dia 23/10/2015. Ele disse que a tecnologia ainda não está
assimilada no país e teme por esqueletos que podem ficar pela cidade, com
desperdício de dinheiro público.
Há várias
irregularidades na construção de monotrilhos em São Paulo, como a licitação da
linha 17 – Ouro, conforme denunciado pelo Tribunal de Contas da União, sem
projeto básico e orçamento, conforme prega a legislação.
Na linha 15 – Prata, os projetos foram mal
elaborados, o que está aumentado o custo da obra e o atraso. Isso ficou muito
claro quando “encontraram” o Córrego da Mooca, que está tendo de ser desviado
para a construção da linha.
Claramente as obras de monotrilho em São Paulo vão
de mal a pior, na linha 18 – Bronze que fará a ligação com São Bernardo do
Campo, as obras não começaram porque o governo estadual não tem os recursos
para a desapropriação e a linha que deveria entrar em operação em 2018, ficará
agora para 2020.
No dia 27 de agosto, outra surpresa, foi dito que o
secretário Clodoaldo Pelissoni, no jornal SPTV, congelou a linha 15 – Prata até
Iguatemi e que o monotrilho não chegará mais a Cidade Tiradentes, não
construindo as estações de Jequiriçá,
Jacu-Pêssego, Érico Semer, Marcio Beck, Cidade Tiradentes e Hospital Cidade
Tiradentes, além do trecho até a Estação
Ipiranga.
Assim como na
linha 17 – Ouro, que foi reduzida para ligar apenas o Aeroporto de Congonhas à
Estação Morumbi, da linha 9 – Esmeralda da CPTM, reduzindo em 10 quilômetros o
projeto inicial, e não atendendo mais os moradores de Paraisópolis. Essa linha
deveria ter sido inaugurada em 2014 e talvez o seja, parcialmente como
divulgado, em 2017.
No caso da
linha 15 – Prata há ainda a suspeita de corrupção, pois o doleiro Alberto
Yousseff, pivô da operação Lava Jato, citou desvio de R$ 7,9 milhões em abril
de 2011.
A opção pelo modal monotrilho até Cidade Tiradentes,
claramente foi um grande erro do governo estadual, escolhendo um sistema que
ainda não existe no mundo inteiro e cujo projeto pode não atender o que foi
prometido.
A demanda estimada quando foi tomada a decisão de
500 mil passageiros por dia, em outros países, justifica a construção de uma
linha de metrô. É o que transporta a maioria das linhas construídas no mundo.
E mesmo se a linha estivesse pronta hoje já estaria
sobrecarregada, pois a estimativa é a demanda esteja em 55 mil passageiros por
hora sentido.
Os argumentos de custo menor e mais rápido para se
construir como foi anunciado não se justificam mais.
Quanto aos custos, ninguém sabe ainda quanto
efetivamente custará essa linha, pois no decorrer do contrato tem sido feito
aditivos e novas obras, como o desvio do córrego da Mooca, que a encarecerá
muito mais do que foi anunciado.
Um trem de metrô pode transportar dois mil
passageiros, enquanto a composição do monotrilho da linha 15 – Prata, a
capacidade é mil passageiros, ou seja, a metade.
Sem falar que a Companhia do Metropolitano de São
Paulo domina a tecnologia e a operação do modal.
Se a obra fosse subterrânea não haveria impacto
urbano e aceleraria o desenvolvimento das regiões por onde passaria.
Um dos argumentos apresentados pelos movimentos
sociais era que na periferia há restrição do governo estadual em construir
metrô, dizendo que é muito caro, o que não ocorre em bairros em outros, o que
ficou comprovado com a extensão da linha 2 – Verde até Guarulhos, que será
totalmente subterrânea.
Resta saber agora qual a nova promessa que o governo
estadual vai oferecer à população da zona Leste.
* Evaristo
Almeida - Mestre em Economia Política -
PUC-SP, Assessor de Transportes e Mobilidade Urbana da Bancada do PT na ALESP,
Coordenador do Setorial Nacional de Transportes do PT
Uma versão desse artigo foi publicado na Folha da Vila Prudente
http://issuu.com/folhavp/docs/1212_pdf
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