Teste de resgate no streetcar de Washington: a obra está sob suspeita
Na capital dos EUA, um escândalo expõe o desperdício do dinheiro público
por Eduardo Graça
De Nova York
Carta Capital
Construção de um sistema de transporte público que vai do nada para lugar algum, contratos com cláusulas secretas com construtora, deterioração de trens, planejamento precário de obras e uma escalada de valores traduzida como assalto ao bolso do contribuinte. Tudo isso na capital da maior economia do mundo ocidental, apresentada com freqüência no Brasil como modelar.
Construção de um sistema de transporte público que vai do nada para lugar algum, contratos com cláusulas secretas com construtora, deterioração de trens, planejamento precário de obras e uma escalada de valores traduzida como assalto ao bolso do contribuinte. Tudo isso na capital da maior economia do mundo ocidental, apresentada com freqüência no Brasil como modelar.
A expansão do streetcar, ou bonde moderno, em Washington, anunciada na virada da década passada e apresentada como solução para a mobilidade urbana na cidade de quase 700 mil habitantes – com outros 400 mil trabalhando no Distrito de Columbia e morando em subúrbios nos estados de Virgínia e Maryland – se tornou uma tremenda dor de cabeça para o Partido Democrata.
Em agosto de 2013 o Departamento de Estado convidou jornalistas, (este incluso) para testemunhar os avanços do transporte público local. A jóia da coroa eram então os trilhos do moderno streetcar, uma iniciativa da prefeitura, comandada durante todo o período pelo Partido Democrata, localizados no bairro histórico de Anacostia, habitado por negros desde antes do fim da escravidão, “um modelo para o futuro do transportes de massas no país”, que teria ao fim 64 quilômetros de extensão.
Nesta semana o jornal Washington Post, a partir de documentos adquiridos através doFreedom of Information Act, denunciou o atraso de um projeto que dura nove anos, já custou 200 milhões de dólares aos cofres públicos e está parado desde o ano passado, com os bondes sendo utilizados apenas para testes eventuais.
Em um dos memorandos oficiais obtidos pelo jornal, reconhece-se o “design inicial deficiente, a construção problemática e a percepção cada vez mais clara de que estamos construindo um ‘streetcar que vai do nada para lugar algum’”.
Depois de um investimento inicial de 20 milhões de dólares, a prefeitura descobriu que os trilhos instalados não comportavam o transporte pesado na hora do rush. A solução foi transformá-los em ‘trilhos de teste’ e começar tudo de novo.
Como nem a garagem nem a uma unidade de manutenção saíram do papel, os três bondes comprados da República Tcheca, incluindo o visitado por CartaCapital em 2013, seguem parados em Greenbelt, no vizinho estado de Maryland, se deteriorando por conta da exposição à chuva e à neve.
Um especialista que trabalhou na área de transporte da prefeitura afirma que os carros estão “apodrecendo”, com poltronas e portas automáticas danificadas pela água.
Os 16,9 milhões de dólares anunciados em 2011 para a construção da central de operações onde os trens ficarão estacionados já estão hoje na casa dos 48,8 milhões de dólares. Para se ter uma ideia, unidades semelhantes custaram 13 milhões de dólares em Tucson, Arizona, 11,5 milhões de dólares em Cincinnati e 11, 1 milhões de dólares em Seattle, criando a suspeita de superfaturamento.
As tais “cláusulas confidenciais” no contrato público com a construtora Dean-Facchina impedem o detalhamento das despesas do projeto, mas elas aumentaram de 50 milhões de dólares em 2012 para 102.6 milhões dólares este ano.
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