13/01/2017 09:00 - Folha de SP
ANTP
ANÁLISE
Era para ter sido um trunfo, mas tornou-se uma longa dor de cabeça. O congelamento da tarifa de ônibus de São Paulo foi alardeado por João Doria (PSDB) logo após vencer em primeiro turno as eleições municipais de outubro.
Já naquele momento, a área técnica do Palácio dos Bandeirantes e o próprio governador Geraldo Alckmin (PSDB) reclamaram de a iniciativa ter sido anunciada de maneira unilateral.
Ao travar o aumento dos ônibus, Doria pôs Alckmin, seu principal aliado e padrinho político, em uma sinuca de bico. Como o governador justificaria um reajuste nas tarifas do metrô e dos trens da CPTM, que já operam em sufoco financeiro?
Sem muita alternativa –as jornadas de junho de 2013 deixaram uma marca perene na cabeça dos políticos–, Alckmin decidiu dançar conforme a música de Doria, segurando o preço unitário do bilhete de metrô e trens nos mesmos R$ 3,80 do ônibus.
Unidos, também encontraram um meio-termo entre a busca pela popularidade e a realidade dos cofres públicos: reajustaram a integração ônibus/metrô e trens em percentual acima da inflação.
Esqueceram-se que vivemos tempos de ativismo judicial, para o bem e para o mal. Uma liminar cassou o reajuste e fez do governador Alckmin o único alvo da ação contra o aumento dos preços.
O governador, primeiro, recusou-se a receber a notificação da decisão. Depois, afirmou pública e categoricamente que a derrubaria com um recurso à Justiça.
Tomou outra pedrada, desta vez do presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Paulo Dimas, responsável pelos despachos no recesso do Judiciário.
Até aliados reconhecem que Alckmin pecou em uma das mais elementares lições políticas: só se canta vitória quando ela está garantida.
Com a negativa do presidente do TJ, Alckmin prepara novo recurso. A prefeitura de Doria, que foi excluída da briga judicial, também entrará com uma apelação.
Um gesto de solidariedade ao padrinho político e, talvez, um reconhecimento de que, tendo arrastado Alckmin para a encalacrada ao prometer o congelamento do ônibus, seria inglório agora deixá-lo sozinho com esse abacaxi.
Se ambos terão sucesso na cruzada judicial, não se sabe. O certo é que o bônus de imagem gerado pelo anúncio do congelamento das passagens unitárias se perdeu.
Agora, prefeito e governador são o retrato de gestores que apelam à Justiça para impor um gasto maior a quem usa metrô e ônibus. É o primeiro tiro de Doria que sai pela culatra –e acerta seu mais precioso aliado de raspão.
ANTP
ANÁLISE
Era para ter sido um trunfo, mas tornou-se uma longa dor de cabeça. O congelamento da tarifa de ônibus de São Paulo foi alardeado por João Doria (PSDB) logo após vencer em primeiro turno as eleições municipais de outubro.
Já naquele momento, a área técnica do Palácio dos Bandeirantes e o próprio governador Geraldo Alckmin (PSDB) reclamaram de a iniciativa ter sido anunciada de maneira unilateral.
Ao travar o aumento dos ônibus, Doria pôs Alckmin, seu principal aliado e padrinho político, em uma sinuca de bico. Como o governador justificaria um reajuste nas tarifas do metrô e dos trens da CPTM, que já operam em sufoco financeiro?
Sem muita alternativa –as jornadas de junho de 2013 deixaram uma marca perene na cabeça dos políticos–, Alckmin decidiu dançar conforme a música de Doria, segurando o preço unitário do bilhete de metrô e trens nos mesmos R$ 3,80 do ônibus.
Unidos, também encontraram um meio-termo entre a busca pela popularidade e a realidade dos cofres públicos: reajustaram a integração ônibus/metrô e trens em percentual acima da inflação.
Esqueceram-se que vivemos tempos de ativismo judicial, para o bem e para o mal. Uma liminar cassou o reajuste e fez do governador Alckmin o único alvo da ação contra o aumento dos preços.
O governador, primeiro, recusou-se a receber a notificação da decisão. Depois, afirmou pública e categoricamente que a derrubaria com um recurso à Justiça.
Tomou outra pedrada, desta vez do presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Paulo Dimas, responsável pelos despachos no recesso do Judiciário.
Até aliados reconhecem que Alckmin pecou em uma das mais elementares lições políticas: só se canta vitória quando ela está garantida.
Com a negativa do presidente do TJ, Alckmin prepara novo recurso. A prefeitura de Doria, que foi excluída da briga judicial, também entrará com uma apelação.
Um gesto de solidariedade ao padrinho político e, talvez, um reconhecimento de que, tendo arrastado Alckmin para a encalacrada ao prometer o congelamento do ônibus, seria inglório agora deixá-lo sozinho com esse abacaxi.
Se ambos terão sucesso na cruzada judicial, não se sabe. O certo é que o bônus de imagem gerado pelo anúncio do congelamento das passagens unitárias se perdeu.
Agora, prefeito e governador são o retrato de gestores que apelam à Justiça para impor um gasto maior a quem usa metrô e ônibus. É o primeiro tiro de Doria que sai pela culatra –e acerta seu mais precioso aliado de raspão.
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