VIDAS EM RISCO?
Novos limites de velocidade podem comprometer a diminuição de vítimas fatais e de feridos que vinha ocorrendo. Gestão Doria defende que sinalização e campanhas serão suficientes para conter riscos
por Luciano Velleda para a RBA publicado 20/12/2016 14:13
RENATO LOBO / VIATROLEBUS
São Paulo – Cumprindo promessa de campanha, mas contrariando estatísticas e apelos de entidades da sociedade civil, a equipe do prefeito eleito João Doria (PSDB) anunciou hoje (20) o aumento da velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros. O anúncio foi feito pelo futuro secretário de Transportes de Doria, Sérgio Avelleda, e o futuro presidente da CET, João Otaviano Neto.
Para veículos leves, a partir do dia 25 de janeiro, a pista expressa de ambas as marginais passará de 70 km/h para 90 km/h e a pista central da marginal Tietê aumenta de 60 km/h para 70 km/h. Já a pista local terá duas velocidades distintas: a faixa mais à direita permanece com o limite de 50 km/h, enquanto as outras aumentam para 60 km/h. Para os veículos pesados, a velocidade máxima será de 50 km/h em toda a pista local e 60 km/h nas pistas central e expressa.
“As pistas foram projetadas para essas velocidades”, disse Sérgio Avelleda. Durante a apresentação, os integrantes do governo Doria insistiram no conceito de que eventuais riscos serão mitigados com ações de segurança baseadas na sinalização e em campanhas publicitárias educativas.
Desde que foi implementada pelo prefeito Fernando Haddad em julho de 2015, o número de mortes nas marginais Tietê e Pinheiros diminuiu em 32,8% em um ano, passando de 73 mortes em 2014 para 49 em 2015. As vidas poupadas têm sido o principal argumento de especialistas e entidades de pedestres, ciclistas e de campanhas contra violência no trânsito para que não houvesse o aumento das velocidades.
Recentemente, a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS), órgão ligado à ONU, elogiou a redução de velocidade promovida por Haddad e pediu aos novos prefeitos eleitos que mantenham os limites de velocidade em vias urbanas inferiores a 50 quilômetros por hora. “Cumprimentamos as iniciativas dos municípios que se empenharam na gestão rigorosa da velocidade. Em memória dos que perderam suas vidas no trânsito, e em respeito àqueles que poderão ser salvos, sigamos os exemplos de Londres, Nova York, Paris, São Paulo, Sydney e Tóquio. Essas cidades reduziram os limites de velocidade nos últimos anos e obtiveram bons resultados“, disse o consultor Opas/OMS no Brasil, Victor Pavarino.
Problemas à vista
Além de ter que combinar os novos limites de velocidade com a diminuição das vítimas fatais e feridos que a redução estava ocasionando, o plano de Doria, batizado de Marginal Segura, aponta para alguns aspectos que provavelmente causarão problemas.
Um deles é a pista local com duas velocidades distintas, sendo a faixa mais à direita de 50 km/h e as outras 60 km/h. Questionados se isso não trará confusão para os motoristas, Sérgio Avelleda e João Otaviano Neto responderam que a sinalização será suficiente para orientar os condutores. Outro aspecto polêmico é a brusca redução de 30 km/h do veículo que passar da pista expressa (90 km/h) para a pista local (60 km/h) da marginal Pinheiros, mudança que pode intervir no fluxo do trânsito, além de ocasionar mais multas.
Otaviano Neto ainda apresentou como “ações de melhoria da segurança” a retomada da fiscalização com radares-pistola da velocidade dos motociclistas, a intenção em coibir a presença de vendedores ambulantes nas pistas e a remoção de pessoas em situação de rua que se abrigam em áreas laterais das marginais, como embaixo de viadutos e pontes. “Teremos uma forte atuação pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) para que se possa trabalhar com eles e retirá-los dessa situação de risco”, explicou o futuro presidente da CET.
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