Segundo extensa nota da Organização Pan-Americana da Saúde e da Organização Mundial da Saúde, as cidades que aumentarem os limites de velocidade irão na contramão do desenvolvimento para um trânsito melhor
ADAMO BAZANI
Enquanto a gritaria ainda é grande em relação à redução das velocidades nas vias urbanas brasileiras e alguns políticos eleitos, como João Doria, que assumirá o executivo municipal da capital paulista a partir de 1º de janeiro, já prometem aumentar novamente velocidades em vias como nas Marginais Tietê e Pinheiros, a Organização Pan-Americana da Saúde e Organização Mundial da Saúde fizeram um apelo público para que os prefeitos continuem ou implantem políticas para redução das velocidades.
De acordo com a nota, a redução das velocidades comprovadamente em diversos países do mundo e, no Brasil inclusive, como na cidade de São Paulo, faz com que o índice de mortes no trânsito caia sensivelmente.
Para se ter uma ideia, de acordo com o levantamento com base em diversos estudos, um pedestre que é atingido por um carro a 30 km /h tem 90% de chances de sobreviver. Quando é atingido por um carro a 45 km/h essa chance de sobreviver cai para 50% e vai a quase zero atingido por um veículo a 60 km/ h.
Além disso, de acordo com a nota, existem evidências concretas e que velocidades 5 km/h acima da média de 60 km/h em áreas urbanas e 10 km/h por hora acima em áreas rurais podem dobrar o risco de mortalidade nos acidentes.
Confira na íntegra
A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) chama atenção para o fato de que mais de um milhão de pessoas no mundo (número estimado) perdem a vida, a cada ano, no trânsito. A quantidade de feridos é ainda mais alta, podendo chegar a até 50 milhões. Um dos principais fatores de risco responsáveis por essa situação é a velocidade excessiva ou inapropriada.
Por isso, a OPAS/OMS pede que os prefeitos novos e reeleitos no Brasil considerem manter os limites máximos de velocidade em vias urbanas iguais ou inferiores a 50 km/h. “Quanto maior a velocidade de um veículo, menor será o tempo que um condutor tem para parar e evitar um choque. O campo de visão do motorista também se reduz à medida que a velocidade aumenta. O impacto de um veículo contra outros usuários da via ou contra um objeto aumenta na proporção quadrática da velocidade. Ou seja, se a velocidade aumenta em 50%, a força do choque aumenta em bem mais que o dobro”, analisa o consultor de Segurança no Trânsito da Representação da OPAS/OMS no Brasil, Victor Pavarino.
Ele explica que um pedestre, por exemplo, tem 90% de chances de sobreviver a um choque com um carro a 30 km/h. Mas essa chance cai para menos de 50% em um impacto a 45 km/h e é quase zero se acima de 60 km/h.
Da mesma forma, aumentar só um pouco a velocidade pode duplicar os riscos de colisão. “Há evidências concretas de que velocidades de apenas 5 km/h acima da média de 60 km/h em áreas urbanas, e 10 km/h acima da média em áreas rurais, são suficientes para dobrar o risco de morbimortalidade nos incidentes”. De acordo com o Relatório sobre a Situação Global da Segurança no Trânsito 2015, os países que lograram reduzir as mortes no trânsito priorizaram a segurança na gestão da velocidade.
Além do sofrimento pelas perdas e incapacitações decorrentes, calcula-se que os custos econômicos, com particular sobrecarga para o setor de saúde, podem chegar a 5% do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todas as riquezas produzidas por um país. No Brasil, o trânsito tira mais de 40 mil vidas por ano, o que corresponde a uma taxa superior a 22 óbitos por grupo de 100 mil habitantes, acima da média das Américas (15,9 por 100 mil habitantes), da média dos países de média e de baixa renda (20,1 e 18,3 por 100 mil habitantes, respectivamente) e mais que o dobro da média dos países de alta renda (8,7 por 100 mil habitantes), conforme os mais recentes relatórios da OPAS e da OMS.
“Nós parabenizamos as iniciativas dos municípios brasileiros que se empenharam na gestão rigorosa da velocidade, e conclamamos as prefeitas e os prefeitos eleitos ou reeleitos que tomem em conta os ganhos verificados nas experiências de redução dos limites nas áreas urbanas. Em memória dos que perderam suas vidas no trânsito, e em respeito às que poderão ser salvas, que sigamos os exemplos de Londres, Nova Iorque, Paris, São Paulo, Sidney e Tóquio. Essas cidades reduziram os limites de velocidade nos últimos anos e obtiveram bons resultados”, diz Pavarino.
Por exemplo, em São Paulo, o número de mortes nas vias marginais Tietê e Pinheiros caiu 32,8% em um ano, passando de 73 óbitos em 2014 para 49 em 2015, conforme dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). “O fator determinante para a queda foi a redução dos limites de velocidade nessas vias, em julho do ano passado. Caiu, principalmente, o número de mortes dos mais frágeis usuários das vias: os pedestres. Isso vai ao encontro de nossos preceitos de saúde e equidade”, afirma o consultor da OPAS/OMS.
Para ele, é fundamental que essa medida continue sendo adotada. “Retroceder nesse avanço significa um retrocesso não apenas nos resultados estatísticos, mas no marco simbólico que representou a decisão em favor da vida, particularmente a dos mais vulneráveis”.
A OPAS/OMS, junto com a Colaboração das Nações Unidas pela Segurança Viária, apoia desde 2004 os Estados Membros em suas iniciativas para reduzir a morbimortalidade no trânsito e monitora o progresso dos esforços realizados. A gestão da velocidade será tema das atividades da Fourth UN Global Road Safety Week (Quarta Semana de Segurança Global no Trânsito das Nações Unidas), que será realizada de 8 a 14 de maio de 2017.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes