terça-feira, 17 de setembro de 2013

NÃO, NÃO DEIXEM A FERROVIA NO LUGAR EM QUE ELA ESTÁ

Recentemente falei do Arco Tietê por aqui, dando uma visão resumida das minhas impressões preliminares no contexto da audiência pública realizada no último dia 10/09, porém um comentário chamou minha atenção, pois se relaciona com o artigo sobre a forma tacanha e prejudicial com a qual são tratados os pouco mais de 130 km de trilhos da CPTM dentro da capital.
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Primeiramente, acho fundamental entendermos que ao falarmos de metrô, estamos sim falando de ferrovia. E a CPTM enquanto operadora, o faz com apenas dois serviços hoje: Trem Metropolitano e Expresso Turístico, ambos são serviços ferroviários de passageiros. O Trem Metropolitano é aquele “servicinho que transporta meia dúzia de pessoas”, ou seja, 3 milhões de passageiros que todos os dias se sujeitam a testes de paciência para vencer distâncias consideráveis. Essa meia dúzia pouco está preocupada se o serviço carrega qualquer tom de saudosismo, fruto sobretudo, da falta de prioridade da ferrovia em políticas públicas realistas para transporte de massa e desenvolvimento regional e metropolitano, sem uma visão carrocêntrica e pseudo-primeiromundista que impõe o carro como elemento inseparável da convivência com o meio urbano, esfriando a possibilidade de espaços democráticos e utilizando da pior forma a infraestrutura e o espaço.
Hoje a CPTM ainda não alcançou os três minutos de intervalo prometidos desde 1991, ainda antes da criação da companhia, o que só viria a ocorrer em 1992, sendo assumidas as operações dos então trens urbanos da CBTU e do Trem Metropolitano da Fepasa em 1994 e 1996, respectivamente. A recuperação das linhas sucateadas da CBTU claramente marca presença até os dias atuais, bem como a continuidade dos esforços nas linhas ex-Fepasa, sendo provavelmente a Linha 9-Esmeralda a vitrine mais significativa de investimentos. A requalificação, porém, não parece ter ocorrido administrativamente, nem parece ter se alicerçado em ideais plenos de inovação, de desenvolvimento e que rigorosamente visassem uma transformação do serviço em todas as suas camadas, abrangendo as mais diversas áreas de influência, compondo diretrizes claras para equilíbrio da demanda e aumento da qualidade de vida dos usuários.
A CPTM enquanto operadora de um sistema tão importante de metrô regional (que aliás hoje é o único serviço de transporte de massa prestado pela companhia, ainda que futuros trens intercidades possam vir a mudar o cenário), que compartilha hoje faixas horárias para o tráfego de cargas (que deverão ser reduzidas a medida que a segregação aumenta), tem o dever de avançar e expandir todo e qualquer paradigma operacional para se adequar à realidade, buscando sinergia com outras entidades públicas, privadas e grupos de indivíduos interessados, sejam ONGs, sejam associações de bairros ou de usuários de determinada linha. O enterramento dos trilhos no eixo do Arco Tietê seria um exemplo de medida que relacionaria diversas entidades, tratando do espaço como um todo, aumentando e muito as chances de sucesso das intervenções a serem realizadas.
A falta de um olhar que vá além de visões vagas e/ou limitadas do que é a ferrovia vem penalizando a população ligada ao serviço, trata-se hoje de um problema da sociedade e também político, e ainda que se possa argumentar que há desinteresse por parte da maioria, seria muito fácil tentar traçar as causas. A CPTM não pode mais ser virtualmente limitada, precisamos de um aumento de capacidade mais pragmático, de uma intermodalidade maior (principalmente fora da capital) e de uma requalificação que não negligencie o espaço urbano e seus ocupantes. A realização adequada dos projetos existentes, se possível com maior grau de refinamento, além da contínua evolução do serviço, simplesmente dependem disso.

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