domingo, 30 de junho de 2013

Exemplo para Passe Livre, cidade belga abandona tarifa zero

Sistema funcionou em Hasselt por 16 anos, até que crise econômica europeia levasse à suspensão do projeto
Subsídio das passagens é pago por prefeitura e província; em um ano, viagens de ônibus aumentaram 300%

Bernardo Mello Franco
Enviado Especial a Hasselt (Bélgica)

A cidade do interior da Bélgica citada por dirigentes do MPL (Movimento Passe Livre) como exemplo a ser seguido no Brasil vai voltar a cobrar pelas viagens de ônibus.

Com pouco mais de 70 mil habitantes, Hasselt (a 90 km de Bruxelas) inovou em 1997 ao oferecer transporte público de graça para todos.

A cidade foi mencionada por Lucas Monteiro, um dos porta-vozes do MPL, no programa "Roda Viva", da TV Cultura, no último dia 17.

Ele também citou cidades nos EUA e na China onde os ônibus seriam gratuitos. "Então não é uma coisa que não acontece em lugar nenhum do mundo", concluiu Monteiro.

O sistema funcionou em Hasselt com sucesso por 16 anos, mas será abandonado no início de 2014. A decisão é consequência da crise que tem obrigado a zona do euro a apertar suas finanças.

A ideia de abolir as catracas foi lançada pelo então prefeito Steve Stevaert, do Partido Socialista Flamengo.

O projeto soou excêntrico à primeira vista, mas logo ganhou amplo apoio popular. Como a província de Limburgo já subsidiava 75% dos bilhetes, a prefeitura de Hasselt só precisou entrar com os 25% restantes para abolir a cobrança aos passageiros.

"Foi um sucesso. Rapidamente virou uma marca registrada da cidade", conta Maarten De Schepper, técnico de mobilidade do município.

A gratuidade mudou os hábitos da população. No primeiro ano, o número de viagens de ônibus saltou de 360 mil para 1,5 milhão, um aumento de 316%. Em 2012, chegou a 4,5 milhões.

O sistema parecia ir de vento em popa, mas os custos para os cofres públicos aumentaram até atingir 2 milhões de euros anuais (R$ 5,7 milhões), o equivalente a 1% do orçamento municipal.

Com a crise na zona do euro, as prefeituras foram obrigadas a cortar despesas. Enquanto cidades vizinhas demitiam funcionários, Hasselt optou, em abril, pelo fim do transporte público gratuito.

A medida valerá a partir de 1º de janeiro do ano que vem. O clima é de fim de festa, mas não houve protestos, segundo autoridades e moradores ouvidos pela reportagem.

"É uma pena. Tenho 19 anos e nunca tive que pagar para circular de ônibus em Hasselt", disse à Folha a estudante Janne Daelemans.

"A população não está feliz com a medida, mas entende que ela é necessária porque estamos passando por uma crise grave", disse Nadja Vananroye, secretária de Bem-Estar Social.

Para reduzir o impacto da mudança, a prefeitura manterá parte do subsídio. A tarifa custará 0,5 euro (R$ 1,43), metade do valor cobrado em municípios vizinhos. De graça, só viajarão idosos e menores de 18 anos.

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