domingo, 15 de julho de 2012

O longo caminho do TAV americano

Modelo de TAV da Arábia Saudita. Foto: Divulgação
“Quando, há três anos, a APTA (American Publica Transportation Association) me procurou para dizer que os Estados Unidos queriam sediar o congresso High Speed, eu pensei que eles estavam brincando”, declarou, com franqueza incomum, o presidente japonês da UIC, e vice da East JR, Yoshio Ishida. Ele abriu 8º Congresso Mundial de Ferrovias de Alta Velocidade, na quarta-feira (11/07), na Filadélfia.
Dos 10 países que contam com trem de alta velocidade, os Estados Unidos entram, com boa vontade, em décimo lugar, tanto em velocidade (o único trem de alta velocidade americano, o Acela, não passa de 230 km/h, atrás do TAV turco), como em número de trens em serviço (apenas 20 unidades, para um total de 2.777 no mundo), como também em extensão de linhas em construção (zero). O diretor da ferrovia japonesa tinha bons motivos para não acreditar.
Mas as coisas estão mudando no país do automóvel. O convencimento do governo Obama de voltar ao trem parece sincero: “nos últimos anos – disse um enfático secretário de Transportes Ray La Hood – financiamos uma dúzia de projetos de VLTs em diferentes cidades americanas; o governo federal ofereceu oito bilhões de dólares, que já são 10 bilhões, para o desenvolvimento de trens intercity, e agora, na sexta-feira, como por um efeito cármico desta reunião na Filadélfia, a assembleia e o senado da Califórnia votaram um plano de oito bilhões de dólares para a emissão de bônus e tomada de empréstimo federal destinados à primeira etapa da linha Los Angeles-San Francisco.
Tudo isso para tirar os carros das ruas e estradas. É claro que as pessoas vão continuar usando seus automóveis. O que queremos é oferecer uma opção de transporte rápida, confortável e segura, para que elas deixem o automóvel em casa”.
O caminho será longo. Três governadores – “mas só três”, ressalta La Hood – recusaram o empréstimo do governo federal. Há no congresso e na imprensa muitas vozes contrárias, senão maioria, pelo menos mais ruidosas.
No fim, é como disse com uma ponta de ironia o presidente das Ferrovias Russas e futuro presidente da UIC, Vladimir Yakunin: “para os americanos deve ser complicado ouvir que, para certas atividades a empresa privada não pode fazer tudo, e que o estado deve se fazer presente”.
Mas o secretário de Obama não desanima: “as gerações passadas nos deixaram o sistema rodoviário das autoestradas interestaduais, a ponte Golden Gate, o Canal do Panamá. Nós vamos deixar para as gerações futuras os trens de alta velocidade. Porque é assim que fazemos nos Estados Unidos: trabalhamos para nossos netos”.
Também presente a seção de abertura, o presidente da SNCF francesa, Guillaume Pepy, disse que a malha de alta velocidade na França está perto da saturação, e que para dar conta da demanda toda a frota de TGVs será convertida para dois andares.
“Assim, um trem na linha Paris-Marselha, por exemplo, já transporta hoje 1.000 passageiros, tanto quanto um Boeing 747, saindo com intervalo de três minutos em cada direção”.
Para as novas linhas, ele admite que será necessário fazer apelo a PPPs, como já está acontecendo hoje: “temos quatro PPPs para linhas de alta velocidade em funcionamento, sendo que a maior delas, para a linha Tours-Bordeaux, representa um investimento total de 10 bilhões de euros”.
Fonte: Revista Ferrovária

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