quinta-feira, 10 de abril de 2014

O metrô que não é metrô

Caravana Horizonte Paulista
Memórias de Padilha
Dos seis municípios metropolitanos percorridos pela Caravana Horizonte Paulista na quinta-feira, 3 de abril, o que fica mais distante da maior cidade do país, a 70 quilômetros, é Juquitiba, de 28,7 mil habitantes. Nem esse nem nenhum outro município, além da capital, é servido pelo sistema estadual de transporte de massa que conhecemos como metrô.
O trânsito infartado em vias centrais de Taboão da Serra (18 quilômetros da capital, 244,7 mil habitantes) e Itapecerica da Serra (33 quilômetros de São Paulo, 152,4 mil habitantes) comprova o testemunho recorrente de moradores da região. Em São Lourenço da Serra (52 quilômetros de SP, 14 mil habitantes), o coordenador da caravana, Alexandre Padilha, explicita a contradição que vivemos: “O metrô de São Paulo foi inaugurado em 1974, tem 40 anos, e até hoje não saiu da capital. Devia ter outro nome, trem da capital, trem rápido da capital, porque não é metropolitano”.
Padilha define “o metrô que não é metrô” - e não há quem não entenda de que é que se está falando. “No metrô ou no trem da CPTM é a mesma coisa". Quanto mais distante do centro é a estação, mais ela vai perdendo em qualidade, o trem tem menos condições, fica mais difícil entrar no vagão”, ele prossegue. “O PSDB dá várias demonstrações de que considera o cidadão que vive na periferia como se fosse alguém que não merecesse o mesmo cuidado que um paulista da avenida Paulista. Os paulistas são tratados de forma diferente de acordo com a condição econômica, do jeito contrário ao que deveria ser.”
Como aconteceu na passagem da caravana pelo Alto Tietê, o tema da água (e da falta dela) é outro que ganha realce nos debates em cidades como Embu-Guaçu (48 quilômetros de SP, 66,3 mil habitantes) e Juquitiba. Essa última se localiza em sua totalidade em território de mananciais, o que a torna área de preservação ambiental.
O prefeito Francisco de Araújo Melo, do PPS, queixa-se da situação do município: “Não temos riquezas e não poderíamos produzir, porque somos 100% de mananciais. Precisamos de algum tipo de compensação”. O presidente do PT local, Paulo Silva, constrói uma comparação: “Se tivéssemos pré-sal, receberíamos royalties. Nosso minério é a água”.
O vereador petista Pedro Ângelo cita uma compensação que até hoje o estado não ofereceu: “Nossa cidade sofre com miséria para preservar a água que agora será captada da nossa represa para abastecer 1,5 milhão de pessoas. Temos apenas 13% do nosso esgoto tratado. Há dentro da Constituição estadual um artigo que nenhum governador teve a hombridade de cumprir até hoje, sobre compensação financeira para municípios que preservam mananciais. Se hoje São Paulo vive uma crise de abastecimento de água, é por falta de políticas sérias do governo do PSDB”.
“À medida que não trata esgoto, você contamina a água também. Essa é uma dívida que a Sabesp e o governo de São Paulo têm com o estado”, diz o deputado estadual petista Marcos Martins. Em Taboão, a caravana encontra uma área de moradias cujos quintais são banhados por esgoto a céu aberto, numa demonstração explícita do que dizia Martins.
Em Juquitiba, Padilha lembra que a obra de captação de água da região para deixar o estado menos dependente do Sistema Cantareira é prometida há duas décadas e até hoje não saiu do papel. “O governo federal tem programas como a chamada Bolsa Verde, em regiões como a Amazônia, para que famílias que vivem em áreas de preservação sejam sustentáveis”, argumenta em Juquitiba. “São Paulo é o estado mais rico do país, que tem sido governado pelo mesmo partido há 20 anos, e portanto não pode dizer que não teve continuidade. É inadmissível que até hoje este estado não tenha criado um sistema de compensação para áreas de mananciais e de preservação.”
Em São Lourenço, o coordenador fecha o arco: “A água cai do céu, mas a população precisa de um governo estadual que faça as obras necessárias de infraestrutura e leve a água até as casas”. Nesta quinta-feira, no interior paulista, o nível de água do Sistema Cantareira está em 13,3% de sua capacidade. É o pior já registrado desde o início da operação, no mesmo ano de 1974 em que o metrô foi inaugurado na capital.
(Foto: Karina Zambrana)

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