terça-feira, 23 de outubro de 2012

Caso Viracopos mobiliza o governo


Vale, presidente da Infraero, estuda comprar kits de remoção de aviões “por orientação da Presidência [da República]“. Foto: Ruy Baron/Valor
A Infraero estuda a possibilidade de comprar kits próprios de remoção de aviões com problemas, após o incidente com um cargueiro que paralisou por 45 horas as operações do aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), no fim de semana retrasado.
O governo também pretende negociar com a Triunfo e a UTC, empresas que encabeçam a nova concessionária responsável pela administração de Viracopos, uma antecipação da segunda pista do aeroporto.
Assinado em junho, o contrato de concessão de Viracopos prevê a construção da segunda pista apenas em 2023. A concessionária Aeroportos Brasil, que também conta com a participação minoritária da operadora francesa Egis, já havia anunciado a intenção de adiantar a entrega da obra para 2017.
O prazo original do contrato reforçou, entre assessores presidenciais, a percepção negativa sobre as regras do leilão de aeroportos realizado em fevereiro.
Nem mesmo a nova data prometida pela concessionária privada agradou ao Palácio do Planalto, que passou a dar mais atenção ao assunto após o incidente com o cargueiro da Centurion.
A presidente Dilma Rousseff chegou a dizer, em discurso inflamado no sábado em Campinas (SP), que “Viracopos será, sem sombra de dúvidas, o maior aeroporto do Brasil”. ”Vamos sugerir ao nosso sócio a antecipação da segunda pista”, disse ao Valor o presidente da Infraero, Gustavo do Vale.
A estatal detém 49% de participação da nova concessionária de Viracopos, que está em fase de “operação assistida” do aeroporto e assume plenamente sua gestão em fevereiro. “O problema foi despertado”, disse Vale, para quem “cabe sim” discutir a entrega da segunda pista antes de 2017.
A estatal também avalia comprar kits próprios de remoção de aeronaves de grande porte. “Depois desse incidente, estamos estudando, até por orientação da Presidência [da República]“, afirmou o executivo.
Esse kits têm custo médio de US$ 3 milhões a US$ 4 milhões, segundo ele. A TAM estima em cerca de US$ 2 milhões (ver reportagem abaixo). A necessidade de aquisição será avaliada em uma reunião para “lavar a roupa suja”, conforme disse Vale, que deve ocorrer na quarta-feira.
A preocupação da Infraero é especialmente em torno de quatro aeroportos: Viracopos, Confins (MG), Manaus e Porto Alegre. Eles têm uma única pista e recebem aviões de grande porte – de carga ou de passageiros.
Para aeronaves como o Boeing 737-800 e o Airbus A320, as companhias aéreas já têm kits suficientes no Brasil, de acordo com o chefe da estatal.
O problema é para aviões do tipo “wide body”, como o MD-11 da Centurion Cargo ou o Boeing 777, usado pela TAM e por empresas estrangeiras. Segundo o executivo, as companhias se organizam em “pool” para manter os kits de remoção em aeroportos estratégicos.
A TAM é parceira da International Airlines Technical Pool (IATP), que reúne 107 aéreas de todo o planeta, afirma. Esse grupo tem kits em 11 aeroportos. ”Na América Latina toda, o único equipamento é o da TAM, em Guarulhos”, disse Vale.
Na Europa, só Heathrow (Londres) e Orly (Paris) dispõem do kit, dentro desse pool. O grupo reúne empresas como American, Delta, United, Lufthansa, British Airways, Air France e Emirates.
Um documento da Organização de Aviação Civil Internacional (Oaci), citado por Vale, indica que os kits podem ser transportados para “qualquer lugar do mundo” em um prazo máximo de “até dez horas”.
Mesmo assim, ele acha necessário avaliar se a própria Infraero deve contar com o equipamento, que poderia ficar à disposição de vários aeroportos da rede. “Vamos fazer uma reunião, na quarta-feira, para ver o que poderia ter sido feito e não foi. Estamos analisando para ver se o ‘pool’ das empresas é suficiente ou não, por exemplo, para levar um kit a Manaus.”
A reunião, convocada pela Secretaria de Aviação Civil, terá a participação de vários órgãos: Infraero, Agência Nacional de Aviação Civil (Civil) e Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), ligado à Aeronáutica.
Mostrando-se aberto a discutir o problema, Vale disse que um dos motivos do atraso da reabertura da pista se deve ao fato de que o cargueiro estava com 16 toneladas de querosene e cinco toneladas de cargas perigosas, que precisaram ser retiradas “manualmente e à luz do dia”.
“O risco de fogo era muito grande. Do jeito que ficam falando, parece que era um procedimento simples”, comentou o executivo. Depois, ele considera que houve um erro de estratégia. “Resolveram suspender o avião, com o trem de pouso e a turbina. Quando levantaram a turbina, ela começou a quebrar. Se tivessem decidido tirar o trem de pouso na primeira madrugada, o avião teria saído da pista em menos de 24 horas.”
Vale só não admite colocar um ponto em discussão: a reabertura apenas parcial da pista para voos, como foi pedido pela Azul. ”Para ser muito honesto, admito as condições técnicas para operar em uma pista de 1.700 metros, mas teria sido uma irresponsabilidade. Eu ia permitir um pouso com uma bomba atômica no final da pista?”, diz Vale.
Na sexta-feira, a Infraero anunciou que cobrará R$ 3 milhões na Justiça da Centurion, por prejuízos materiais. Além disso, avalia valores referentes a danos morais.
Fonte: Valor Econômico, Por Daniel Rittner

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