quinta-feira, 3 de julho de 2014

Redução de tarifa do transporte será bandeira de Padilha

Padilha sobre os 3% no Datafolha: "O que vale é a pesquisa de outubro. Temos autoridade para defender o legado de Lula e Dilma". Foto: Ana Paula Paiva/Valor
Padilha sobre os 3% no Datafolha: “O que vale é a pesquisa de outubro. Temos autoridade para defender o legado de Lula e Dilma”. Foto: Ana Paula Paiva/Valor
Um ano depois da onda de protestos que levou milhares de pessoas às ruas, o candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, terá como uma das principais bandeiras a redução da tarifa do transporte público.
Padilha propôs a criação de um bilhete único intermunicipal nas regiões metropolitanas do Estado, para reduzir o valor pago por quem usa ônibus intermunicipal mais trem e metrô. No entanto, evitou falar na diminuição do valor da passagem de R$ 3 do metrô e da CPTM.
Em entrevista ao Valor, Padilha criticou o governador e candidato à reeleição, Geraldo Alckmin (PSDB), pelo baixo ritmo de expansão do metrô e disse que em quatro anos levará o transporte para Guarulhos, Taboão da Serra e ABC.
Para isso, defendeu o modelo de concessões, usado pelo governo federal nos aeroportos de São Paulo, mas não quis estipular quantos quilômetros pretende construir.
Outro pilar da campanha deve ser a educação. Padilha defendeu a implementação de cotas étnicas e sociais na USP, Unesp e Unicamp, a exemplo do que já acontece nas universidades federais. Em São Paulo, só a Unesp começou com a reserva de 15% das vagas neste ano para alunos do ensino público.
Ao reforçar ações na região metropolitana, em busca do voto de quem vive em cidades onde o PT é eleitoralmente forte, Padilha segue em rumo diferente do que tem sido defendido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: atrair o eleitorado do interior.
Conquistar o voto de quem vive nas pequenas e médias cidades do Estado é visto como fundamental para derrotar o PSDB, que há cinco gestões consecutivas comanda o Estado.
A três meses das eleições, a campanha petista não conseguiu seguir outra orientação de Lula, a de construir uma aliança mais ampla do que o PT já teve no Estado, com setores e partidos mais conservadores.
O ex-presidente desejava a indicação de um empresário do interior paulista para a vice. O petista, porém, escolheu o sindicalista Nivaldo Santana (PCdoB) para a vaga, depois de perder o apoio do PP e de não conseguir atrair o PSD. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ontem.
Valor: A que o senhor atribui a decisão do PP de migrar para Skaf?
Alexandre Padilha: O PP e o PMDB, que já governaram o Estado por 20 antes do PSDB, resolveram se agrupar em uma candidatura. Os partidos resolveram se compor dessa forma. Fui informado por meio de nota oficial encaminhada às 17h [de segunda-feira] ao presidente do PT. Sempre estive na política com muita disposição de diálogo, mas não abro mão das minhas convicções. Desde o começo disse que não abria mão de ter o senador Eduardo Suplicy como candidato ao Senado. Não abri mão de ter um candidato a vice com ficha limpa.
Valor: O senhor se sente traído?
Padilha: É uma decisão dos partidos. Fiz questão de fazer tudo em público. O primeiro acordo foi com o PCdoB. Depois fizemos um ato público com o PP. Faço políticas claras, na luz do dia.
Valor: Pesou alguma questão de financiamento de campanha?
Padilha: Não posso avaliar o que pesou para o PP e os outros partidos. Em política isso acontece, já vi isso mais de uma vez.
Valor: Lula queria que seu vice fosse um empresário, do interior. O que deu errado, já que escolheram o sindicalista Nivaldo Santana?
Padilha: Fizemos a opção no momento da conjuntura e na definição das alianças. Optei por ter um vice que expressasse o movimento negro, um profundo conhecedor da Sabesp, que reforçasse a ideia da defesa de Dilma [Rousseff]. Tanto o PCdoB quanto o PR sempre tiveram postura correta. Discutiram espaço na aliança, deixando à vontade para que tomássemos as decisões.
Valor: Faltou articulação do governo federal para trazer os partidos da base aliada?
Padilha: A presidente acompanha de perto o processo desde o começo e participou de várias das conversas. Agora, os partidos resolveram montar uma candidatura com quem já governou. Não sei como vai ser a relação com a candidatura de Dilma.
Valor: O senhor tem 3% no Datafolha. Quando espera reverter isso?
Padilha: O que vale é a pesquisa de outubro. Temos autoridade para defender o legado de Lula e Dilma, vamos ter a campanha de TV e outras formas de debate. Nunca esteve tão cristalizada a hipótese de segundo turno e estaremos lá.
Valor: Haddad era lanterninha nas pesquisas, mas tinha a forte presença de Lula na rua. Agora, o ex-presidente está focado na reeleição de Dilma e tem viajado o país. Isso não dificulta sua campanha?
Padilha: Lula já fez mais agendas comigo na pré-campanha do que fez em todas as campanhas anteriores em São Paulo. Lula está animadíssimo para entrar na campanha. Quanto mais colocam para ele responsabilidade na campanha, mais quer entrar. Aguardem que o Lula terá uma participação muito importante. Dilma, os ministros, todos eles já estão ajudando muito na elaboração do programa. A partir de julho teremos agenda com eles. Ministros que foram candidatos – Marta Suplicy e Aloizio Mercadante – têm peso muito forte.
Valor: O senhor não citou em nenhum momento o prefeito Haddad, cuja gestão tem aprovação de 17%. É um peso para sua campanha? Não desgasta o discurso do “novo”?
Padilha: Não temos motivo nenhum para esconder que fazemos parte do governo Haddad. Vamos mostrar que Haddad entregou em um ano e meio suas promessas de campanha e o governador não entregou promessas que fez em 1998, nem 2002. O trânsito na cidade tem a ver com a ausência do governo do Estado em enfrentar o problema do transporte coletivo.
Valor: Quais os principais temas que devem nortear sua campanha?
Padilha: Temos que dar um grande salto na qualidade da educação e ajudar as universidades a participarem da produção tecnológica do Estado. Defendo cotas nas universidades estaduais para alunos de escolas públicas e para negros. Vamos discutir um ritmo de implantação, que pode ser gradativo como nas federais. Quero criar intercâmbio internacional para os melhores alunos do ensino médio. Temos o desafio da segurança. Hoje a sensação de insegurança está presente em todas as regiões. E o tema do transporte coletivo.
Valor: O senhor falou da possibilidade de baixar a tarifa do transporte público. O que pode ser feito?
Padilha: Vamos criar um bilhete único integrado nas regiões metropolitanas da capital, da Baixada Santista, de Campinas, do Vale do Paraíba e de Sorocaba – quando for implantada lá. Quando uma pessoa entra no ônibus da EMTU [empresa estatal de transporte intermunicipal] e vai para a CPTM ou para o metrô, tem que pagar outra tarifa. Vamos integrar. A pessoa que circula de Guarulhos, do ABC, da capital e pega o metrô ou a CPTM vai pagar um bilhete apenas. Isso vai reduzir o custo para o cidadão e vai reforçar a integração do transporte. Combinado a isso, vamos acelerar as obras do metrô, para em quatro anos chegar a Guarulhos, Taboão da Serra, ABC. Faremos isso com parceria com o setor privado, com concessões, da mesma forma que o governo federal fez com os aeroportos de Viracopos e Cumbica.
Valor: Como seria a redução da tarifa? Seria mais pela implementação do Bilhete Único ou pela redução dos R$ 3 do metrô e CPTM?
Padilha: Com o Bilhete Único vamos reduzir o preço da tarifa pago por quem precisa utilizar o ônibus da EMTU mais o trem e a CPTM. Sobre a tarifa atual, a discussão só pode ser feita no ano de reajuste de tarifa. Tenho forte compromisso com transporte barato e rápido para o cidadão, mas com equilíbrio fiscal.
Valor: Quantos quilômetros fará de metrô?
Padilha: Não adianta falar de quilômetro e ficar construindo metrô só na Avenida Paulista. A questão é: para onde levaremos o metrô? Para a região metropolitana da capital.
Valor: Como vai atrair o eleitor mais conservador, resistente ao PT?
Padilha: Pela minha postura. Vou dialogar com o conjunto da sociedade, como fiz nos governos de Lula e Dilma. Vamos mostrar para esse segmento um programa de mudança de verdade.
Valor: O senhor tem como adversários um governador, cujo o partido está há 20 anos poder, e um ex-presidente da Fiesp. Isso não dificulta a conversa com o empresariado?
Padilha: Tenho ouvido do empresariado que o momento em que mais ganharam dinheiro nesse país foi durante o governo do presidente Lula. O empresariado tem muita clareza de que um governo liderado pelo PT vai estabelecer ousadia em retomar o papel de liderança que o Estado pode ter e a previsibilidade nas regras. Vai ajudar no crescimento da economia, aumento da produção e geração de empregos.
Valor: O senhor já tem um nome para a Secretaria da Fazenda?
Padilha: Esse negócio de sentar antes na cadeira não faz bem e não dá sorte para políticos. A gente já sabe o que aconteceu aqui. Estamos concentrados em apresentar nossas propostas.
Valor: O senhor já falou sobre a possibilidade de fazer uma “Carta aos Paulistas” nos moldes da “Carta ao Povo Brasileiro”, para atrair o empresariado. Pretende fazer isso?
Padilha: Tenho convicção de que o nosso programa de governo sinaliza isso e ao longo do debate vamos reafirmar compromissos que temos, como a manutenção do equilíbrio fiscal. São Paulo fez ajuste fiscal, que preparou o Estado para ser um espaço permanente de investimento. Infelizmente, a lentidão do atual governo impediu que o espaço fiscal pudesse acelerar as obras de infraestrutura. Nosso programa vai partir do tripé: investimento na qualidade da educação, parceria com o setor privado para destravar os gargalos de logística e redução da burocracia.
Valor: De que forma?
Padilha: Queremos criar uma parceria com a Junta Comercial, governo do Estado e prefeituras para permitir a criação de uma empresa em seis horas. Seria um Poupatempo empresarial.
Valor: O senhor disse que seu adversário é Alckmin. E Skaf?
Padilha: Não. O único adversário nosso é o atual governo. É com eles que vamos polarizar. Teremos dois pilares: apresentar um programa de mudança de verdade e fazer desde o primeiro dia de campanha a defesa do legado de Dilma e de Lula. Isso nos credencia para o segundo turno.
Valor: Em 2012 a disputa ficou embolada na capital e mostrou que a polarização entre PT e PSDB mudou. Isso não pode voltar a acontecer, com Skaf?
Padilha: Ter várias candidaturas viáveis é muito bom. Considero positivo termos três perfis de candidatura: uma em que está o atual governador, outra com os ex-governadores e a nossa, que vai governar pela primeira vez o Estado. Cristaliza a oportunidade de termos dois turnos.
Valor: Como evitar que a polarização seja entre PSDB e PMDB?
Padilha: O anseio que parte significativa da população tem é de mudança de verdade. Vamos entrar em campo mostrando um programa de mudança. É essa polarização que vai se estabelecer no Estado.
Valor: Como o senhor viu a entrada de Serra na disputa pelo Senado? Dificulta para Suplicy?
Padilha: Todas as eleições, desde 1990 quando ele foi eleito, sempre foram extremamente disputadas. Mas não abri mão de tê-lo como candidato. Será uma eleição dura, mas vai ganhar.
Valor: Como vai lidar com problemas como o suposto envolvimento do deputado Luiz Moura com o PCC e a operação Lava Jato?
Padilha: Torço para que o PSDB venha com esse debate. Vamos confrontar o que o governo federal fez, com as investigações da Polícia Federal, da CGU, com o que o governo do Estado fez com os 15 anos de escândalo de corrupção do metrô. Aqui a apuração só começou por iniciativa de autoridades internacionais, da PF, do Cade. O Ministério Público já nominou secretários que continuam no governo. O PT foi ágil ao mostrar que será implacável com as facções criminosas que cresceram nos governos do PSDB.
Fonte: Valor Econômico, Por Cristiane Agostine e Fernando Taquari

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