quinta-feira, 23 de março de 2017

Rodízio muda? Muda Rodízio!

Bem que podia ser verdade, mas acabo de saber que as notícias sobre uma revisão geral no Programa de Rodízio do Município de São Paulo que circulam na internet, não passam de boatos. -Leia: https://diariodotransporte.com.br/2017/03/21/cet-desmente-boatos-da-internet-e-diz-que-rodizio-de-veiculos-nao-muda/

O Rodízio de Veículos de São Paulo é um programa obsoleto, tecnicamente inadequado, improdutivo, socialmente desequilibrado, injusto e elitista; no entanto, como a Síndrome de Estocolmo da mobilidade urbana, essa tragédia administrativa é cegamente aceita e considerada por todos como “um bem” para a comunidade paulistana.
Mas, como em todo início de mandato de governo, estamos na hora boa de avaliar em profundidade esse paradigma para mudá-lo para algo que faça sentido e que caminhe progressivamente para um futuro melhor, mais fluido.
Olhando bem, além de não fazer diferença relevante no status dos congestionamentos e de não cumprir seu papel em relação ao seu controle, o Rodízio favorece somente quem tem meios para flexibilização de horários e os que tem mais de um carro disponível. Do ponto de vista da equidade social, é uma piada de mau gosto.
Um programa tecnicamente adequado e justo de restrição de uso do transporte individual – principal causa do caos da mobilidade urbana – é aquele que onera o uso do sistema viário congestionado pelo meio motorizado privado e poluente, com tarifas de uso flexíveis, progressivas e diferenciadas, proporcionais ao potencial poluidor dos veículos, e que incide somente nos trechos e horários onde esses se encontram congestionados. O monitoramento eletrônico, de baixo custo atualmente, permite o registro seguro da presença de um dado veículo, de placa tal, num dado trecho e num dado horário. Os registros individuais de uso do sistema viário congestionado dão origem à cobrança, recolhida dos usuários de automóveis como se fora uma conta de luz, ao final de cada mês. Essa contribuição é obrigatoriamente transferida para o financiamento da melhoria da qualidade e aumento da oferta do transporte público local.
Na pior das hipóteses, se a tarifação não for suficiente para eliminar os congestionamentos, pelo menos esses serão progressivamente menos poluentes, contribuirão para a contínua melhoria da qualidade do transporte público e haverá cada vez mais alternativas de deslocamento com conforto e rapidez para quem não usa o automóvel.
Para o usuário médio, estamos falando de uma conta de cinco reais por dia, ou ao final do mês, de cerca de cem reais pelo uso efetivo diário do viário congestionado – o equivalente a meio tanque de combustível cancerígeno que um cidadão consome em seu automóvel movido a gasolina ou diesel, por exemplo. Numa cidade como São Paulo, isso representaria uma receita de cinco bilhões de reais por ano; em dez anos, cinquenta bilhões de reais de investimento garantido para o transporte público com prioridade e preferência de circulação no viário.
Isso significa menos carros nas ruas, menos contaminação, menos mortes associadas a ela, menos tempo perdido – por todos – nos congestionamentos, menos deseconomias multifacetadas, e ao mesmo tempo, mais fluidez, mais oferta, mais qualidade e mais conforto no uso do transporte público. Tudo isso como contrapartida de um irrisório ônus de cinco reais por dia por parte dos causadores desse câncer que assola o mundo urbano.
Por sua vez, o que o Rodízio (individual) já fez pelo transporte público (social) até hoje? Não … não perca seu tempo pensando.
Com um programa avançado de restrição ao uso desequilibrado do sistema viário, que olhe para o futuro, haverá progressivamente mais equidade social na mobilidade urbana, onde os causadores do caos financiarão a solução do problema que eles mesmos criaram.
Este é o conceito do PUI – Pedágio Urbano Inteligente: a única saída para evoluirmos rumo a uma mobilidade urbana motorizada mais sustentável nas grandes cidades congestionadas.
Olimpio Alvares é Diretor da L’Avis Eco-Service, especialista em transporte sustentável, inspeção técnica ambiental e de segurança e emissões veiculares; concebeu o Projeto do Transporte Sustentável do Estado de São Paulo; é membro fundador da Comissão de Meio Ambiente da Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP; Diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades – SOBRATT; colaborador do Instituto Saúde e Sustentabilidade, Instituto Mobilize, Clean Air Institute, Climate and Clean Air Coalition – CCAC e do International Council on Clean Transportation – ICCT; é ex-gerente da área de controle de emissões veiculares da Cetesb; é membro da coordenação da Semana d a Virada da Mobilidade.

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