quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Novos modelos de transporte urbano podem ajudar a construir cidades mais sustentáveis


Este texto foi escrito por Holger Dalkmann, Dario Hidalgo and Thet Hein Tun e foi originalmente publicado no site do WRI.
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Líderes urbanos do mundo todo estarão reunidos em Quito, no Equador, entre 17 e 20 de outubro, para definir a agenda global para o futuro das cidades na Conferência das Nações Unidas sobre Habitação e Desenvolvimento Urbano Sustentável, a Habitat III. Por meio do World Resources Report (WRR), relatório sobre cidades sustentáveis, o WRI apresenta pesquisas para ajudar a criar cidades em que as pessoas possam viver, se deslocar e prosperar. Uma seção do WRR versa sobre como a mobilidade sustentável oferece às pessoas um acesso melhor e mais seguro às oportunidades das cidades e será apresentada no evento de lançamento da publicação em Quito, no dia 16 de outubro.
Emmanuel, um alfaiate de 40 anos que mora em Awoshie, um subúrbio de Acra, em Gana, é um bom exemplo de quem enfrenta desafios para se deslocar nas cidades. Apesar de morar a apenas 11 quilômetros de seu trabalho no distrito empresarial, gasta 15% de sua renda para chegar ao local, sendo a maior parte no trotro, uma pequena van que fornece serviço de transporte coletivo informal (similar ao magic na Índia, o daladala na Tanzânia ou à combi no Peru). O congestionamento no centro da cidade faz com que os motoristas de ônibus façam rotas maiores que duram mais de uma hora, enquanto as opções de trajetos mais diretos são muito caros. A solução que Emmanuel encontra para suas dificuldades somente tornaria o tráfego ainda pior: ele espera comprar seu próprio carro.
Promover o transporte sustentável para todos os habitantes das cidades é uma parte proeminente da Nova Agenda Urbana, o documento que resultará da Habitat III. Isso demonstra o reconhecimento da comunidade internacional de desenvolvimento sobre como a mobilidade é importante para a prosperidade, a inclusão social e a sustentabilidade ambiental. Tornar essa visão uma realidade traz desafios para os líderes municipais, enquanto precisam batalhar para resolver a necessidade imediata de deslocar as pessoas de casa para o trabalho com recursos limitados. Em muitos casos, as cidades continuam com modelos antigos e não sustentáveis, que dependem muito dos carros nas ruas. E os problemas do transporte tradicional, incluindo os acidentes fatais de trânsito e os efeitos da poluição do ar na saúde, continuarão sendo sentidos principalmente nas parcelas mais vulneráveis da população.
Entre os anos 2000 e 2015, o uso de veículos automotores aumentou 67% e passou de 14 trilhões para 24 trilhões de quilômetros rodados. Neste período, o número de veículos nas ruas passou de 664 milhões para 992 milhões, um aumento de 49%, refletindo o aumento da classe média urbana nos países em desenvolvimento. O estoque de veículos elétricos cresceu bastante, mas ainda representa apenas 1 milhão do total em 2015, acima dos apenas 20 mil de 2010. Enquanto as novas tecnologias, como aplicativos integrados nos veículos, trazem flexibilidade e conveniência para os motoristas, os serviços seguem focados nos carros para a mobilidade ao invés da inclusão em um plano de mobilidade abrangente, que estimule a mobilidade ativa como caminhadas e pedaladas.  
Colocando as cidades no banco do motorista
Endereçar esses desafios será essencial caso as cidades queiram atingir os objetivos de transporte sustentável da Nova Agenda Urbana. O World Resources Report do WRI examina essa questão em um capítulo que analisa as possíveis políticas que os governos municipais podem usar para estimular suas comunidades a buscarem formas de mobilidade urbana sustentável.
Há diversos bons exemplos de como fazer isso. Atualmente, são mais de 12.600 quilômetros de metrô ou trens urbanos e 5.400 quilômetros de Bus Rapid Transit (BRT), que juntos somam cerca de 154 milhões de viagens por dia em 250 cidades. Caminhadas e uso de bicicleta também estão ganhando força. Nas cidades americanas, por exemplo, os deslocamentos por bicicleta aumentaram 62% entre 2000 e 2013. E algumas cidades, como Londres, Xangai e Bogotá, desencorajam o uso excessivo de carros usando a taxação de congestionamento, cotas por veículo ou restrições de placas veiculares, enquanto trabalham para reduzir o tráfego, a poluição do ar e as emissões de gases de efeito estufa.
O WRR analisa as políticas que têm o potencial de capitalizar esse aumento de interesse. Ao notar que as cidades mais sustentáveis tem uma grande proporção de habitantes que caminham, pedalam e usam o transporte coletivo, buscamos políticas que estimulem esse comportamento. Elas podem incluir mudanças no uso do solo, com uso misto residencial e comercial; zonas dedicadas a pedestres e ciclovias; e melhorias no planejamento e coordenação das políticas de trânsito entre as regiões metropolitanas para garantir que o serviço abrange todas as áreas.  
Outro desafio está no foco tradicional do financiamento público em construir estradas em vez de investir em mais opções de transportes sustentáveis, bem como em planos de mobilidade abrangentes, principalmente nas regiões metropolitanas, cujas diferentes prefeituras não estão coordenadas.
As novas soluções de mobilidade, como aplicativos de transporte privado ou compartilhamento de carros, podem ser uma grande parte da oferta de transporte, mas como um complemento de um sistema coordenado. As cidades precisam estar mais no banco do motorista e não no lugar do passageiro.

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