quinta-feira, 14 de abril de 2016

Os espaços que o carro ocupa no cotidiano urbano

Engarrafamento no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, Brasil (Henrique Boney – WikiCommons – CC)
Muitas vezes deixamos escapar o raciocínio de como o espaço nas cidades é precioso. Isso nos foge por conta de inúmeros fatores que vão de calçadas – a parte ingrata de exercitar o cotidiano urbano – aos semáforos desajustados para pedestres. Nesse cenário, o carro exerce o papel de antagonista que tem a simpatia do narrador e ganha mais espaço do que deveria. No entanto, carros ocupam espaço demais.
A dimensão do carro, muitas vezes, habita o imaginário de quem usa o transporte coletivo. Afinal, ele parece confortável para quem o vê de dentro do transporte público. E, sim, um veículo pode ser espaçoso para quem está dentro dele, mas ocupa uma área em maior escala para quem está fora. Os carros podem ser um problema para a vida urbana em diferentes aspectos. Ainda assim, a estimativa é que a frota mundial de veículos chegue a marca de 2,5 bilhões em 2050.
A saúde é um exemplo que pode ser citado e visto por quem mora nas cidades. Em Pequim, por exemplo, deixar o céu azul fez parte de uma estratégia governamental para alguns dias que aconteceram eventos importantes em 2015. Acontece assim: semanas antes das efemérides, o governo proíbe a circulação de carros e funcionamento de indústrias em determinadas áreas da cidade. Assim dissipam a névoa de poluição.
Agora, o céu azul é o elemento visual da história que não pode ocultar a saúde dos moradores da cidade. Em Pequim, para manter o exemplo, aconteceu, em dezembro de 2015, pela primeira vez de o governo emitir um “alerta vermelho” por conta dos altos índices de poluição no ar. Obviamente, algumas pessoas precisaram evitar o alerta para evitar a circulação e enfrentaram a camada de ar úmido e parado. Sobre a adaptação dos residentes, uma matéria da Folha de São Paulo cujo título fala por si:moradores de Pequim vestem máscaras com estilo.
A máxima quantidade que o corpo humano suporta de partículas de poluição, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é de 25 microgramas por metro cúbico. Na época em que o alerta vermelho foi acionado na capital chinesa, o número de partículas estava em 256. O espaço do carro se apresenta em mortes e porcentagem, porque, segundo a OMS, a poluição é responsável por 7 milhões de mortes a cada ano. Dentro de um escopo que 75% das emissões em áreas urbanas são provenientes do setor de transportes, os carros adquirem, portanto, boa fatia de responsabilidade.
Sem mencionar quando o espaço do carro colide com o do pedestre, literalmente. Os acidentes de trânsito são responsáveis por tirar a vida de 1,2 milhão de pessoas em todo o mundo, todos os anos.
A névoa de poluição em Pequim no dia 12/09/2015 (Reprodução/Inside Beijing)
No entanto, nem todos os números são negativos. Surgem iniciativas em sentido satisfatório, ainda que de maneira tímida, mas que apresentam lugares onde o carro não é mais rei. Como este artigo, originalmente publicado no site da UITP, destaca:
“Transformar ruas orientadas para carros em espaços funcionais para pedestres pode incentivar não só o transporte saudável e ativo como caminhar e pedalar, mas também a  interação social e desenvolvimento econômico. Descongestionar a parte interna das cidades também ajuda a limpar o ar e contribuir para os objetivos da política nacional de mudanças climáticas.”
Esta reportagem do jornal O Globo enumera alguns dos “exercícios de futurologia” que podemos fazer para analisar algumas cidades e bairros que tem planos de restringir a circulação de carros particulares em seus territórios.
Apesar disso, uma parcela mais do que considerável dos espaços urbanos em cidades do mundo inteiro é dedicada não às pessoas, mas aos carros. Sobre esse espaço, é possível encontrar múltiplas variações de imagens que circulam pela internet que comparam a área ocupada por pessoas em ônibus, carros ou bicicletas em contrapartida ao desproporcional espaço que veículos particulares ocupam com o mesmo número de pessoas. Exercício de imaginação que fizemos neste post, no Dia Mundial Sem Carro de 2015.
Um movimento no sentido de maior preocupação com aqueles que usufruem da cidade precisa ser levado em conta. Seja por meio de alertas como em Pequim ou a recente medida tomada pela Cidade do México para se livrar da poluição. Conforme o OutraCidade, em março, o governo local decidiu tirar 1 milhão de carros das ruas visando a melhor qualidade do ar. Em abril, a capital mexicana pretende dobrar a restrição. Para compensar, as passagens de ônibus estão gratuitas e há desconto nas corridas de táxi.
A equação para obter a maior valorização do pedestre nos centros urbanos é proporcional à menor quantidade ocupada por veículos particulares. Afinal, os deslocamentos cotidianos podem ser feitos sem carros, mas isso exige planejamento, responsabilidade e comprometimento tanto daqueles que pensam a cidade quanto de quem a torna um elemento vivo.
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