quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Editorial: O que o jornal não fala sobre a faixa exclusiva de ônibus

AUTOR: RENATO LOBO

A mais nova polêmica (ou não tão nova) da cidade de São Paulo é a faixa exclusiva de ônibus da Avenida Giovanni Gronchi, no bairro do Morumbi, que vem desagradando moradores da região, e sobretudo aqueles que trabalham em emissoras de TV e rádio. A medida beneficia quase 150 mil passageiros todos os dias, já que mais de 10 linhas passam pela região. A faixa funciona no horário de pico.
Desde o início da operação, telejornais se posicionaram contra o projeto. Nesta quinta-feira, 4 de fevereiro, o âncora do Bom dia São Paulo da TV Globo, Rodrigo Bocardi, questionou se valeria a pena uma medida ajudar um grupo e sacrificar outro. A reportagem transmitiu ao vivo o trânsito formado pela fila de carros, e ao flagrar motoristas adentrando aos espaços do transporte coletivo, ou seja, cometendo infrações de trânsito, o jornalista afirmou que os condutores “não aguentam e acabam invadindo”.
Talvez a “dúvida” faria sentido se o número de pessoas transportadas por carros seria igualmente aos que se deslocam por ônibus na região. No entanto, os números apontam outro cenário bem diferente: A pesquisa de mobilidade urbana de 2012, feita pelo metrô, mostra que na Zona Sul apenas 15% dos deslocamentos são feito por automóveis. A mesma pesquisa revela ainda que uma minoria que se desloca dentro de veículos, representa uma taxa média de ocupação de 1,2, por automóvel.
Outros dados convergem na informação de que em torno de um terço dos paulistanos usam o automóvel como meio de deslocamento. Logo, podemos deduzir qual grupo é maior.
Podemos também lembrar que o uso demasiado do carro esta ligado a poluição atmosférica. Um estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), aponta que automóveis são responsáveis por cerca de 65% das emissões de poluentes na cidade de São Paulo. (leia mais)
O discuso contra a politica de priorização do transporte coletivo não é exclusiva da Globo. Nesta semana, o apresentador José Luiz Datena relacionou a faixa exclusiva ao aumento no número da criminalidade na região. Datena diz ainda que o trânsito da cidade piorou com as faixas, sem mecionar dados que comprovem a afirmação.
No último dia 26 de janeiro, na rádio Jovem Pan, a reportagem também relacionou a estrutura ao um possível aumento da criminalidade.

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